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Relatório de Inteligência Comercial e Econômica: O Comércio Bilateral de Pescados entre o Estado do Pará e o Japão

O Peixe do Pará tá “Só o Filé” no Japão: O Negócio tá Ficando Égua de Bom!

Égua , maninho e maninha! Pega o beco da tristeza e vem conferir esse babado forte. Tu sabias que o nosso peixe, pescado aqui nas águas barrentas do Pará, tá fazendo a maior festa lá no Japão? É mermo é !

Recebi um relatório aqui na redação que é daora , explicando tudinho sobre como os japoneses estão doidos pelo nosso pescado. Bora desenrolar esse carretel porque o assunto é sério e envolve muita bufunfa.

1. O Japão quer Qualidade, não quer “Bagulho”

O relatório diz que o Pará é o “bam-bam-bam” do peixe no Brasil. Mas olha já: apesar de a gente vender muito volume pros Estados Unidos e pra China, é o Japão que paga o preço de ouro. O peixe que vai pra lá não é meia tigela , não. É produto de luxo!

Os japoneses pagam uma média de quase 16 dólares o quilo. Isso é coisa pra dedéu! Para eles, comer o nosso peixe é só o filé , ou seja, é o máximo de qualidade.

2. O “Pargo” e o “Grude”: A Dupla Dinâmica

Tem dois astros nessa história que estão cheios de pavulagem lá fora:

  • O Pargo: Esse peixe vermelhinho é o bicho lá no Japão. Como a cor vermelha dá sorte pra eles, o Pargo vira prato de festa. É chique no úrtimo!

  • O Grude (Bexiga Natatória): Parente , tu nem te conto … O tal do grude vale mais que ouro em pó. O relatório entregou o migué : muita coisa vai pra Hong Kong primeiro e depois entra no Japão. É um negócio que gera muita grana, mas precisa deixar de ser feito na encolha pra render imposto pra nós.

3.A Viagem é pra “Caixa Prega”

 

O problema é que o Japão fica lá na baixa da égua . Não tem navio direto daqui de Vila do Conde pra lá. O peixe tem que dar um rodeio danado, passando pelo Caribe ou descendo pro Sul.

Demora uns 45 a 60 dias pro peixe chegar lá. Por isso, o congelamento tem que ser pai d'égua , senão a carne fica ruim e o japonês, que é carrancudo com qualidade, devolve tudo.

4. A Oportunidade: China x Japão

Agora vem o pulo do gato. A China brigou com o Japão por causa de uns problemas ambientais lá (água de Fukushima) e parou de comprar peixe deles. Aí sobrou espaço pra nós!

Se o empresário paraense for escovado (malandro, esperto), a gente entra com tudo nesse mercado. Mas tem que se ligar: eles são enjoados com higiene e mercúrio. Se tiver sujeira, já era .

Resumo da Ópera

O Japão tá comprando pouco em quantidade (81 toneladas até agosto de 2025), mas pagando muito bem. É um mercado pra quem manja dos paranauês. O Pará tem a faca e o queijo na mão pra deixar de ser apenas fornecedor de matéria-prima e virar potência mundial de peixe de luxo.

Então, te orienta! Vamos valorizar o nosso produto, porque se o japonês lá do outro lado do mundo acha nosso peixe bacana , a gente tem é que ter orgulho mermo!

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Análise Estrutural do Fluxo de Exportações, Dinâmica de Mercado e Cadeia de Valor da Pesca Amazônica

Data: Dezembro de 2025

Escopo: Análise exaustiva das exportações de pescado do Pará para o Japão (2023-2025), abrangendo volumes, valores, espécies, logística e barreiras regulatórias.

1. Sumário Executivo e Panorama Estratégico

A presente análise detalhada examina a complexa e multifacetada relação comercial entre o estado do Pará, maior produtor e exportador de pescado do Brasil, e o Japão, uma das nações com maior consumo per capita de proteína marinha no mundo. Embora os dados agregados sugiram que o Japão ocupa uma posição de nicho em comparação com os volumes massivos destinados aos Estados Unidos ou à China, uma investigação mais profunda revela que o mercado japonês representa o ápice da valorização qualitativa para a produção pesqueira amazônica.

No recorte temporal mais recente, abrangendo o período de janeiro a agosto de 2025, o Japão consolidou-se como o quarto maior destino direto das exportações de pescado do Pará, movimentando aproximadamente US$ 1,3 milhão (valor FOB) com um volume físico de 81,3 toneladas.1 Embora este volume pareça modesto frente às 8.375 toneladas totais exportadas pelo estado em 2024 2, ele oculta uma dinâmica de altíssimo valor agregado e uma rede de comércio indireto — via triangulação por Hong Kong e Estados Unidos — que amplifica significativamente a real presença do pescado paraense nas mesas japonesas.

A relevância deste fluxo comercial transcende os números absolutos. O Japão atua como um validador de qualidade global: a capacidade de uma planta frigorífica paraense acessar o mercado japonês atesta a excelência de seus processos sanitários e logísticos, servindo como um “selo de qualidade” para outros mercados exigentes. Ademais, o comércio é impulsionado por produtos de luxo específicos, notadamente o Pargo (Lutjanus purpureus), cuja coloração vermelha possui profundo significado cultural no Japão, e a bexiga natatória (“grude”), uma commodity de preço estratosférico que navega por canais comerciais complexos e muitas vezes opacos entre a Amazônia e o Leste Asiático.3

O cenário para 2025-2030 aponta para uma reconfiguração das cadeias de suprimento. A proibição chinesa aos frutos do mar japoneses, decorrente da liberação das águas tratadas de Fukushima 5, criou um vácuo no mercado asiático que o Brasil, e especificamente o Pará, está estrategicamente posicionado para preencher. Contudo, gargalos logísticos crônicos na Região Norte e a necessidade urgente de combater a pesca ilegal não declarada (IUU) permanecem como desafios críticos para que o estado transforme seu potencial biológico em liderança de mercado sustentável.

2. Contexto Macroeconômico e Geopolítico da Relação Brasil-Japão

Para compreender a especificidade das exportações de pescado do Pará, é imperativo situá-las no contexto mais amplo das relações comerciais nipo-brasileiras. Em 2025, Brasil e Japão celebram 130 anos de amizade e intercâmbio, com um comércio bilateral que totalizou US$ 11 bilhões no ano anterior.7 Historicamente, a pauta exportadora brasileira para o Japão tem sido concentrada em commodities de baixo valor agregado ou insumos industriais brutos, como minério de ferro, carne de frango e café verde, que juntos respondem por mais de 43% das exportações.7

O estado do Pará replica e intensifica esse padrão. A balança comercial paraense é dominada de forma avassaladora pela mineração. No primeiro semestre de 2024, o setor mineral respondeu por 81,71% das exportações do estado, totalizando US$ 8,78 bilhões.8 O Japão, como uma potência industrial desprovida de recursos naturais, é um consumidor voraz desses minérios. No entanto, a estratégia de desenvolvimento econômico do Pará, articulada por entidades como a Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), busca incessantemente a diversificação da pauta exportadora, tentando verticalizar a produção e agregar valor aos produtos da biodiversidade amazônica, onde o pescado se insere como um vetor crucial.9

2.1. A Economia do Pescado no Japão: Um Gigante em Transformação

O Japão passa por uma transição demográfica e cultural que altera profundamente seu padrão de importação de alimentos. O consumo per capita de pescado no país caiu drasticamente de seu pico de 40,2 kg em 2001 para cerca de 20,4 kg em 2023, uma redução de quase 50%.10 Esse declínio é atribuído a uma ocidentalização da dieta, com as gerações mais jovens preferindo carnes vermelhas e frango, além da percepção de que o preparo de peixes inteiros é trabalhoso e inconveniente.

Paradoxalmente, essa contração no consumo de massa elevou a exigência por qualidade e conveniência nos segmentos remanescentes. O consumidor japonês atual busca ou produtos ultra-premium para ocasiões especiais (sashimi de alta qualidade, lagosta, pargo para celebrações) ou produtos processados de alta conveniência (filés sem espinhas, pratos prontos).10 É neste cenário que o Pará se insere: não como um fornecedor de volume para commodities baratas (papel ocupado pelo Vietnã e Chile), mas como um provedor de espécies selvagens de captura extrativa marinha que ocupam nichos específicos de alta gastronomia e tradição.

Em 2024, o Japão importou globalmente cerca de 2,09 milhões de toneladas de produtos pesqueiros, avaliados em 1,94 trilhão de ienes (aproximadamente US$ 12,7 bilhões).11 O Brasil, e o Pará por extensão, representa uma fração pequena desse total, competindo com gigantes logísticos como a Tailândia, China e Estados Unidos. Contudo, a estabilidade das relações comerciais com o Japão é considerada superior à de outros mercados voláteis, tornando-o um alvo prioritário para a diplomacia comercial paraense.12

2.2. A Relevância da Pesca na Balança Comercial do Pará

O Pará não é apenas um participante no mercado pesqueiro nacional; é o protagonista absoluto. Dados da FIEPA indicam que o estado lidera as exportações de peixes do Brasil, sendo responsável por 25,30% do total nacional em 2024.2 As exportações totais de pescado do estado somaram US$ 69,04 milhões no ano, com um volume de 8.375 toneladas.2 Embora o valor tenha apresentado uma leve estabilidade em relação a 2023 (-0,34%), o setor demonstra resiliência e capacidade de adaptação.

A análise dos dados de 2025 revela uma aceleração impressionante. No acumulado até agosto de 2025, o valor das exportações de pescado do Pará cresceu 71,20% em comparação ao mesmo período do ano anterior.13 Esse crescimento é multifatorial, impulsionado pela desvalorização cambial que torna o produto brasileiro mais competitivo, pela abertura de novos mercados e pela recuperação biológica de certas espécies após períodos de defeso. O Japão, embora absorva uma parcela menor desse crescimento em volume do que os EUA, contribui desproporcionalmente para a margem de lucro devido ao alto preço pago por quilo de produto especializado.

3. Análise Quantitativa: O Comércio Pará-Japão em Números

A precisão na análise dos dados de comércio exterior entre Pará e Japão exige a distinção entre fluxos diretos e indiretos, bem como a compreensão da sazonalidade e da composição da pauta.

3.1. Estatísticas de Exportação Direta (2024-2025)

Os dados compilados a partir de relatórios sindicais e estatais 1 permitem traçar o seguinte quadro das exportações diretas de pescado do Pará para o Japão:

PeríodoValor Exportado (FOB)Volume (Toneladas)Preço Médio (Estimado)Posição no Ranking de Destinos
Jan-Ago 2025US$ 1.300.00081,0 t~US$ 16,05/kg4º Lugar
Jan-Ago 2024Dados inferidos via variação~22,0 tN/AFora do Top 5
Total 2024 (Est.)~US$ 1.500.000~90-100 t~US$ 15,50/kgTop 5

Análise dos Dados:

  1. Valor Unitário Elevado: O preço médio aproximado de US$ 16,00 por quilograma é um indicador robusto de que o Japão importa produtos de alto valor agregado. Para fins de comparação, exportações de peixes inteiros para mercados africanos ou sul-americanos frequentemente orbitam na faixa de US$ 3,00 a US$ 5,00/kg. O valor japonês reflete a predominância de filés processados premium, bexigas natatórias (ocultas em NCMs genéricos ou específicas) e espécies nobres como o Pargo.
  2. Crescimento Exponencial: A comparação entre o desempenho de 2024 e 2025 sugere uma retomada vigorosa. O crescimento geral das exportações do estado em agosto de 2025 (362,8% em relação a agosto de 2024) 13 indica que houve um desbloqueio logístico ou sanitário que permitiu o fluxo represado de mercadorias.
  3. Participação Relativa: Com US$ 1,3 milhão até agosto de 2025, o Japão representa cerca de 3% a 4% do valor total das exportações de pescado do Pará (considerando o total estadual de ~US$ 47 milhões até agosto citado em 13). Embora distante dos US$ 19,5 milhões dos EUA 1, é um mercado que oferece diversificação de risco cambial e geopolítico.

3.2. O Fenômeno da Triangulação via Hong Kong e EUA

Uma análise puramente baseada em exportações diretas subestima drasticamente o consumo japonês de pescado paraense. Os dados apontam Hong Kong como o segundo maior destino, importando US$ 18,2 milhões (432 toneladas).1 A discrepância abismal entre o valor por tonelada de Hong Kong (~US$ 42,00/kg) e o dos EUA (~US$ 8,20/kg) sinaliza a presença massiva de produtos de luxo ultra-concentrados, especificamente as bexigas natatórias secas (“grude”).

Hong Kong atua historicamente como um entrepôt (porto de reexportação). Grande parte desse “grude” e barbatanas importados por Hong Kong é reexportada para a China Continental e para o Japão, onde é utilizada na alta gastronomia e na indústria farmacêutica/cosmética. Portanto, é economicamente plausível estimar que uma fração considerável (potencialmente 10-15%) das exportações registradas para Hong Kong tenha o Japão como consumidor final, o que elevaria o “valor real” das importações japonesas do Pará para um patamar muito superior aos US$ 1,3 milhão oficiais.

Além disso, os Estados Unidos, principal destino do pescado paraense (33% do total) 2, possuem grandes processadoras que reembalam e reexportam produtos pesqueiros. Filés de pargo ou lagosta brasileira podem ser processados na Flórida e reexportados para redes de distribuição global, incluindo o Japão, sob marcas americanas, desaparecendo das estatísticas bilaterais Brasil-Japão.

4. Análise Específica por Espécie e Produto

A pauta exportadora do Pará para o Japão não é diversificada; ela é altamente concentrada em poucas espécies que atendem a nichos culturais e industriais específicos.

4.1. O Pargo (Lutjanus purpureus): O Símbolo de Celebração

O pargo é, indiscutivelmente, o carro-chefe da pesca industrial paraense voltada para o mercado internacional. No Japão, peixes da família Sparidae e Lutjanidae (conhecidos genericamente como “Tai”) são culturalmente indispensáveis. O “Madai” (Red Seabream) é servido em casamentos, no Ano Novo e em celebrações de nascimento devido à sua cor vermelha (auspiciosa) e ao trocadilho com a palavra “medetai” (festivo/parabéns).

  • A Vantagem Paraense: Com a sobrepesca dos estoques locais no Japão e a alta demanda, o Lutjanus purpureus capturado na costa Norte do Brasil serve como um substituto perfeito de alta qualidade. Sua pele vermelha vibrante e carne branca firme são ideais para o preparo de sashimi (quando a qualidade permite), shioyaki (grelhado com sal) e nitsuke (cozido em molho de soja).
  • Formato de Exportação: O mercado japonês valoriza o peixe inteiro (HG – Headless Gutted / Sem cabeça e eviscerado, ou GGS – Gilled, Gutted, Scaled). A integridade da pele e das escamas é vital. Diferente do mercado americano que aceita filés industriais, o comprador japonês inspeciona a aparência externa do peixe como indicador de frescor e manuseio a bordo.
  • Desafios de Sustentabilidade: A pesca do pargo enfrenta sérios riscos. Em 2024, operações do IBAMA apreenderam 43 toneladas de pargo no porto de Vila do Conde por irregularidades documentais e desrespeito ao período de defeso.14 A espécie é classificada como sobrepescada. O mercado japonês, cada vez mais alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), começa a impor barreiras a produtos sem certificação de sustentabilidade (MSC ou similares), o que representa um risco futuro para as exportações paraenses se a gestão pesqueira não for aprimorada.

4.2. A Economia Oculta do “Grude” (Bexiga Natatória)

Se o pargo é o volume, a bexiga natatória é o lucro invisível. Extraída de espécies como a Pescada Amarela (Cynoscion acoupa) e a Gurijuba (Sciades parkeri), a bexiga natatória seca atinge valores astronômicos.

  • Uso no Japão: Além do uso culinário em sopas de “beleza” (ricas em colágeno), o Japão utiliza a ictiocola (colágeno de peixe) extraída do grude de alta pureza na indústria de bebidas para a clarificação de saquês e cervejas premium, e na indústria de alta tecnologia para colas de precisão.3
  • Dinâmica Comercial: O pescador paraense recebe valores baixos (R$ 15-30/kg), mas o produto, após secagem e beneficiamento, é exportado por valores que podem superar R$ 1.700/kg na Ásia.3 A exportação é frequentemente realizada sob códigos NCM genéricos (“Outros subprodutos de peixe”) ou via contrabando para evitar tributação e controles sanitários, o que torna as estatísticas oficiais para o Japão apenas uma sombra da realidade. Projetos de lei recentes no Brasil buscam classificar o grude como “alimento” para regularizar esse fluxo e garantir que a riqueza permaneça no estado.4

4.3. Crustáceos e Outras Espécies

  • Lagosta: O Japão é um mercado tradicional para lagosta inteira cozida e congelada. A produção paraense contribui para o total brasileiro, mas enfrenta a competição da lagosta australiana e do sudeste asiático, que possuem vantagens logísticas. A implementação de cotas de pesca em 2024 no Brasil 15 visa recuperar os estoques, o que limitará o volume disponível para exportação no curto prazo, mas tende a elevar os preços unitários.
  • Piscicultura (Tilápia e Tambaqui): Embora o Brasil avance na exportação de Tilápia, o Pará ainda tem participação tímida nesse segmento para o Japão. O mercado japonês importa volumes massivos de filés de peixe branco processados 16, majoritariamente Pangasius do Vietnã e Tilápia da China/Taiwan. Para o Pará competir, precisará de escala industrial e custos logísticos competitivos, algo que a infraestrutura atual ainda não permite plenamente.

5. Infraestrutura, Logística e Cadeia de Suprimentos

A distância física entre Belém e Tóquio é de aproximadamente 16.000 km, e a inexistência de rotas diretas impõe o chamado “Custo Amazônia” às exportações.

5.1. A Rota Marítima e o Transit Time

A exportação de pescado congelado do Pará para o Japão depende quase exclusivamente do transporte marítimo em contêineres reefer (refrigerados).

  • Portos de Saída: Vila do Conde (Barcarena) é o principal hub. O porto de Belém, com calado restrito e limitações urbanas, perdeu protagonismo.
  • Transbordo: Não há navios diretos. A carga sai de Barcarena, segue frequentemente para portos de transbordo no Caribe (Panamá, Cartagena ou Kingston) ou, alternativamente, desce para Santos/Navegantes antes de seguir para a Ásia via Cabo da Boa Esperança ou Canal do Panamá.
  • Impacto: Esse trajeto resulta em transit times de 45 a 60 dias. Para peixes congelados, isso é aceitável, mas exige tecnologias de congelamento de ponta (túneis estáticos ou contínuos de -40°C) para evitar a recristalização do gelo na carne, o que degradaria a textura — um defeito fatal para o mercado japonês.

5.2. A Cadeia de Frio em Terra

O maior gargalo, contudo, reside na logística interna. O transporte do peixe das vilas pesqueiras remotas (como Vigia, Bragança, São Caetano de Odivelas) até as plantas de processamento enfrenta estradas precárias e fornecimento inconstante de energia elétrica e gelo. A qualidade do pescado que chega à planta determina se ele pode ser “Tipo Exportação Japão” ou se será destinado ao mercado doméstico. A FIEPA e o sindicato das indústrias têm alertado para a necessidade de investimentos em infraestrutura logística e modernização do parque industrial para reduzir perdas pós-colheita.9

6. Barreiras Regulatórias, Sanitárias e Ambientais

O acesso ao mercado japonês é considerado um dos mais difíceis do mundo devido ao rigor do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar (MHLW) do Japão.

6.1. Segurança Alimentar e Contaminantes

O Japão monitora estritamente resíduos químicos. Na aquicultura, o uso de antibióticos é vigiado com tolerância próxima a zero. Na pesca extrativa da Amazônia, a preocupação central é o mercúrio. Devido ao garimpo ilegal na bacia amazônica, peixes carnívoros de topo de cadeia (como a própria Pescada Amarela e grandes bagres) podem bioacumular metilmercúrio. Lotes exportados para o Japão estão sujeitos a testes aleatórios na chegada. Uma detecção positiva resulta na destruição da carga e na imposição de “Ordem de Inspeção Obrigatória” para 100% das cargas subsequentes daquela empresa ou região, o que inviabilizaria economicamente a operação.

6.2. Certificação e Rastreabilidade

O consumidor japonês exige saber a origem exata do produto. A pesca artesanal paraense, responsável por grande parte da captura, opera em um nível de informalidade que dificulta a rastreabilidade documental completa exigida pelas autoridades japonesas. A falta de emissão de notas fiscais na primeira venda (do pescador para o atravessador/indústria) cria “buracos negros” na documentação sanitária, impedindo que muitos produtos de alta qualidade aptos fisicamente para exportação obtenham a certificação sanitária internacional (CSI) necessária para embarque.3

7. O Fator China e a Oportunidade Geopolítica

Um elemento exógeno recente alterou a balança de poder no comércio asiático de pescados. Em agosto de 2023, a China impôs uma proibição total às importações de frutos do mar japoneses em resposta à liberação de águas tratadas da usina nuclear de Fukushima.5

7.1. Reconfiguração dos Fluxos

Essa proibição teve dois efeitos imediatos que beneficiam o Pará:

  1. Necessidade de Novos Fornecedores para a China: A China, privada do pescado japonês, busca fornecedores alternativos, aumentando a demanda global e sustentando preços.
  2. Necessidade do Japão de Diversificar Fontes: O Japão processava muito de seu pescado na China (pescava, enviava para a China processar e reimportava). Com as tensões, indústrias japonesas buscam novas parcerias de processamento e fornecimento direto. O Brasil, com relações diplomáticas amigáveis com ambos, surge como um parceiro neutro e confiável. As exportações agrícolas e pesqueiras do Japão para os EUA aumentaram, mas a importação de matéria-prima (que o Japão precisa) abre espaço para o peixe amazônico preencher lacunas deixadas por fornecedores instáveis.5

8. Perspectivas Futuras: 2025-2030

8.1. Expo Osaka 2025 como Vitrine

A realização da Expo Mundial em Osaka, em 2025, é vista como uma oportunidade de ouro para o branding do pescado amazônico.7 A ApexBrasil planeja ações setoriais para promover a sustentabilidade e o sabor exótico dos produtos brasileiros. A introdução de espécies como o Pirarucu de manejo sustentável (Paiche) em menus de degustação japoneses poderia criar um novo nicho de mercado, similar ao que ocorreu com o Açaí.

8.2. Aquicultura como Vetor de Crescimento

A pesca extrativa tem limites biológicos claros. O futuro do crescimento das exportações reside na aquicultura. Se o Pará conseguir desenvolver a cadeia da Tilápia e de peixes nativos com padrões industriais, poderá acessar o mercado japonês de filés congelados, hoje dominado pela Ásia. No entanto, isso exige uma revolução na infraestrutura de ração e genética no estado.20

8.3. Conclusão da Análise

O volume de 81 toneladas exportadas diretamente para o Japão nos primeiros oito meses de 2025 é, paradoxalmente, pequeno e imenso. Pequeno frente ao potencial produtivo do Pará, mas imenso em seu significado estratégico. Ele representa a ponta de lança de uma cadeia produtiva que aprendeu a atender aos clientes mais exigentes do mundo.

Para o estado do Pará, o desafio não é apenas “vender mais peixe”, mas “vender melhor”. Isso implica:

  1. Regularizar o comércio do Grude, transformando o contrabando em divisas fiscais e renda transparente.
  2. Investir em Rastreabilidade, garantindo que o Pargo paraense seja reconhecido como sustentável e livre de contaminantes.
  3. Aproveitar a janela geopolítica, posicionando-se como o fornecedor de segurança alimentar para um Japão que vê suas fontes tradicionais ameaçadas por tensões regionais e mudanças ambientais.

O Japão continuará a importar pescados do Pará. A questão é se esse comércio permanecerá um nicho de luxo ou se expandirá para se tornar um pilar central da bioeconomia amazônica. Os dados de 2025 sugerem que o caminho para a expansão está aberto, mas exige profissionalização e estratégia de estado para ser plenamente percorrido.

Tabela 1: Perfil das Exportações de Pescado do Pará (Jan-Ago 2025)

DestinoValor FOB (US$)Volume (Toneladas)Preço Médio (US$/kg)Perfil do Produto Principal
Estados Unidos19.500.0002.3528,29Filés de Pargo, Lagosta, Peixes Diversos
Hong Kong18.200.00043242,13Bexiga Natatória (Grude), Barbatanas, Pepino do Mar
China5.000.0001.6952,95Peixe Inteiro Congelado (Commodity)
Japão1.300.0008116,05Pargo Inteiro (Premium), Grude, Lagosta

Fonte: Elaboração própria com base em dados de LPC Logística e Sindicatos da Indústria.1

Tabela 2: Comparativo de Requisitos de Mercado

FatorMercado JaponêsMercado ChinêsMercado Norte-Americano
PrioridadeAparência, Frescor, TexturaPreço, Volume, Espécies Específicas (Grude)Filé Processado, Praticidade
Forma PreferidaInteiro (GGS), EvisceradoInteiro, Seco (Grude)Filé, Posta
Barreira PrincipalSanitária (Química/Biológica)Burocrática (Habilitação de Plantas)FDA/Tarifas Antidumping
Tolerância a DefeitosNula (Rejeição Total)ModeradaBaixa

Relatório elaborado com base nas informações disponíveis até Dezembro de 2025.

Referências citadas

  1. Exportações de pescado do Pará em alta! – LPC Logística …, acessado em dezembro 25, 2025, https://lpc.com.br/exportacoes-de-pescado-do-para-em-alta/
  2. Pará lidera exportação de peixes no Brasil, com mais de 25% do …, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.oliberal.com/economia/para-lidera-exportacao-de-peixes-no-brasil-com-mais-de-25-do-total-nacional-aponta-fiepa-1.915213
  3. A cobiça pela Amazônia continua – Jornal DR1, acessado em dezembro 25, 2025, https://jornaldr1.com.br/a-cobica-pela-amazonia-continua/
  4. Projeto libera bexiga natatória para consumo alimentar – Notícias – Câmara dos Deputados, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.camara.leg.br/noticias/1144892-projeto-libera-bexiga-natatoria-para-consumo-alimentar/
  5. Exportações de alimentos do Japão em 2024 atingem recorde, apesar das proibições de importação de frutos do mar da China – Notícias Agrícolas, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/politica-economia/393603-exportacoes-de-alimentos-do-japao-em-2024-atingem-recorde-apesar-das-proibicoes-de-importacao-de-frutos-do-mar-da-china.html
  6. Japan posts food export record in 2024, but China's ban on seafood still dragging on industry | SeafoodSource, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.seafoodsource.com/news/supply-trade/japan-posts-food-export-record-in-2024-but-china-s-ban-on-seafood-still-dragging-on-industry
  7. EXPORTS BOOST – Apex Brasil, acessado em dezembro 25, 2025, https://apexbrasil.com.br/content/dam/expoosaka/en/file/impulso_das_exportacoes_ed6_en.pdf
  8. Pará exportou US$ 10,7 bilhões nos primeiros seis meses de 2024, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.fiepa.org.br/post/par%C3%A1-exportou-uu-10-7-bilh%C3%B5es-nos-primeiros-seis-meses-de-2024
  9. Pará encerra 2024 com saldo positivo na balança comercial – FIEPA, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.fiepa.org.br/post/par%C3%A1-encerra-2024-com-saldo-positivo-na-balan%C3%A7a-comercial
  10. Japão x Brasil: a diferença no nível do consumo de pescado entre eles – Associação Brasileira de Fomento ao Pescado, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.abrapes.org/site/nt/926/index.php
  11. Japan's 2024 Fishery Product Imports Up Slightly by 1% at 2.09 Million MT – Seafoodnews, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.seafoodnews.com/Story/1297047/Japans-2024-Fishery-Product-Imports-Up-Slightly-by-1-percent-at-2-point-09-Million-MT
  12. Seafood exports to Japan will not have a breakthrough in 2024 – Phu Kim Nhat Foods, acessado em dezembro 25, 2025, https://phukimnhat.com/seafood-exports-to-japan-will-not-have-a-breakthrough-in-2024
  13. Exportações de pescado do Pará somam US$ 47 milhões até …, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.oliberal.com/economia/exportacoes-de-pescado-do-para-somam-us-47-milhoes-ate-agosto-1.1022957
  14. Ibama apreende 43 toneladas de pargo, espécie ameaçada de extinção, no PA, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/noticias/2024/ibama-apreende-43-toneladas-de-pargo-especie-ameacada-de-extincao-no-pa
  15. A safra da lagosta em 2024: diferente, mas igual – Oceana Brasil, acessado em dezembro 25, 2025, https://brasil.oceana.org/blog/a-safra-da-lagosta-em-2024-diferente-mas-igual/
  16. Processed Fish in Japan Trade | The Observatory of Economic Complexity, acessado em dezembro 25, 2025, https://oec.world/en/profile/bilateral-product/processed-fish/reporter/jpn
  17. Pará encerra 2024 com saldo positivo na balança comercial – Blog do Branco, acessado em dezembro 25, 2025, https://blogdobranco.com/para-encerra-2024-com-saldo-positivo-na-balanca-comercial/
  18. China suspende importações de marisco do Japão em altura de tensões bilaterais – RTP, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.rtp.pt/noticias/economia/china-suspende-importacoes-de-marisco-do-japao-em-altura-de-tensoes-bilaterais_n1699182
  19. Japão – Portal do Cliente da AICEP, acessado em dezembro 25, 2025, https://clientes.portugalglobal.pt/fm/download.php?f=Japao&a=

20240711 – Informativo Comercio Exterior – 18ED.cdr – Infoteca-e, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1165865/1/InfComExPisci-18.pdf