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Dinâmica Comercial e Análise Estratégica das Exportações de Pescado para o Japão: Um Estudo Exhaustivo sobre os Fluxos Globais e a Participação da Lusofonia

Como sempre temos o artigo em Português Paraense e Português do Brasil

Aqui está o artigo reescrito para o veropeso.shop, traduzido com carinho para o nosso Amazonês, direto da “baixa da égua” para o mundo, analisando esse “babado forte” do peixe no Japão.


O Babado Forte do Peixe pro Japão: Quem tá Brocando e Quem tá Moscando 🐟🇯🇵

Égua, mano! Te abicora aqui que o negócio é sério. Tu sabias que o Japão, aquele lugar lá na “caixa prego”, tá brocado de fome por peixe e marisco? Pois é! O negócio lá é “discunforme”. Os caras importam quase metade de tudo que comem. Só em 2024, eles gastaram mais de 12 bilhões de dólares comprando peixe dos outros. É dinheiro que “só o tucupi”!

Mas bora deixar de “lero lero” e ver como é que os nossos parentes da lusofonia (Brasil, Portugal, Angola e Moçambique) tão nessa fita. Será que tão “tirando onda” ou tão “levando farelo”?

1. Japão: O Bucho Sem Fundo

O Japão não brinca em serviço. Apesar do dinheiro deles (o Iene) estar meio “liso” (desvalorizado), eles não deixam de comer o sushizinho deles. Eles compram muito atum, salmão e camarão. Mas olha a “potoca”: descobriram que muita enguia que eles vendem como se fosse japonesa, na verdade, é americana processada na China. É um “migué” pesado! Estão querendo “tapar o sol com a peneira”, mano.

2. Brasil: O Gigante que tá “Dormindo no Ponto” 🇧🇷

Rapaz, o Brasil é “maceta” no frango e na soja, exporta bilhões. Mas quando o assunto é peixe pro Japão? Égua, não! A gente tá fraco, “bem ali” na rabeira.

  • A Real: A gente vende mais é peixe de aquário (tipo Acará-disco) pra enfeite. É bonito, é “pai d'égua”, mas não enche bucho.

  • O Vacilo: A nossa tilápia, que nos EUA é “só o filé”, no Japão quase não entra. Os caras lá preferem peixe branco de outros cantos.

  • A Esperança: Agora em 2025 saiu um acordo novo pra vender ingredientes de ração. Ou seja, se a gente não vende o peixe, pelo menos vende a comida pro peixe deles. Já é um começo pra gente deixar de ser “leso”.

3. Portugal: Só na “Pavulagem” e no Luxo 🇵🇹

O tuga é “escovado” (esperto). Eles não querem saber de vender peixe barato não. O negócio deles é o Atum Rabilho, aquele gigante que custa o olho da cara.

  • O Esquema: O peixe sai de Portugal, muitas vezes passa pela Espanha (dando uma volta “lá onde o vento faz a curva”) e chega no Japão valendo ouro. É coisa de “bacana”.

  • As Conservas: Sabe aquela sardinha em lata? Lá eles vendem como artigo de luxo, embalagem bonita, “só o creme”. O tuga sabe vender o peixe dele, literalmente. Não é “meia tigela” não.

4. Moçambique e Angola: O Negócio tá “Panema” 🇦🇴🇲🇿

  • Moçambique: Antigamente, o camarão selvagem deles era “o bicho” no Japão. Mas agora? O camarão de cativeiro da Ásia, que é mais barato, tá tomando conta. O camarão moçambicano virou coisa rara, e eles tão “levando uma pisa” da concorrência no preço.

  • Angola: “Ixi, mana…” Angola só quer saber de petróleo e diamante. Peixe que é bom? “Nem te conto”. Não tem estrutura de gelo, não tem esquema. O peixe fica por lá mesmo ou vai pra Portugal. Pro Japão? “Nem com nojo” (quase nada).

Resumo da Ópera

O Japão tá lá, com a boca aberta cheia de fome. O mundo todo tá brigando pra vender pra eles.

  • Brasil: Precisa deixar de ser “boca mole” e investir em processamento pra não ficar só na vontade.

  • Portugal: Tá “de bubuia”, vendendo pouco mas vendendo caro.

  • África: Precisa “se espertar” e melhorar a estrutura.

E aí, parente? Tu achas que o nosso peixe aqui do Ver-o-Peso, aquele Filhote ou a Dourada, não fazia sucesso lá? Eu acho que ia ser “estouro”!

Agora te apruma e “pega o beco” pra compartilhar essa notícia!

Dinâmica Comercial e Análise Estratégica das Exportações de Pescado para o Japão: Um Estudo Exhaustivo sobre os Fluxos Globais e a Participação da Lusofonia

Resumo Executivo

O mercado japonês de produtos da pesca (seafood) representa, indiscutivelmente, um dos ecossistemas comerciais mais complexos, exigentes e influentes da economia alimentar global. Com uma dependência estrutural de importações que ronda os 46% a 50% do seu consumo interno, o Japão atua como um barómetro para a saúde do comércio internacional de pescado. Em 2024, as importações japonesas de produtos pesqueiros estabilizaram em aproximadamente 2,09 milhões de toneladas métricas, avaliadas em 1,95 biliões de ienes (aproximadamente 12,7 mil milhões de dólares).1

Este relatório, com uma extensão de análise profunda, disseca a anatomia deste comércio, partindo da macroestrutura global dominada por gigantes como a China, Estados Unidos e Chile, e afunilando para a posição estratégica — e muitas vezes paradoxal — dos países lusófonos (Brasil, Portugal, Moçambique e Angola).

A análise revela uma bifurcação crítica na relação comercial lusófona com o Japão:

  1. Brasil: Um gigante do agronegócio que, apesar de exportar mais de 5,5 mil milhões de dólares para o Japão, mantém uma presença incipiente no setor de pescado, focada em nichos de biodiversidade (peixes ornamentais) e subprodutos, embora novos acordos sanitários em 2025 sugiram uma mudança de paradigma.
  2. Portugal: Um ator de “valor sobre volume”, cuja exportação é ancorada na rota de luxo do Atum Rabilho (Bluefin) e nas conservas premium, navegando complexidades logísticas e reexportações via Espanha.
  3. Moçambique e Angola: Nações com recursos vastos mas infraestruturas desiguais, onde o camarão selvagem de Moçambique luta para manter a sua quota de mercado “premium” contra a aquacultura asiática massificada.

O relatório examina também os vetores de segunda ordem: a depreciação do Iene, a transparência das espécies (o caso da enguia), e as barreiras não tarifárias que definem o sucesso ou fracasso neste mercado.

Parte I: A Arquitetura do Mercado Importador Japonês — Dinâmicas Globais

Para compreender a inserção dos países lusófonos, é imperativo primeiro mapear a “fisiologia” do mercado japonês. O Japão não é apenas um importador; é um modelador de padrões de qualidade globais. A sua taxa de autossuficiência para marisco comestível tem estado numa trajetória descendente de longo prazo, caindo de um pico de 113% em 1964 para cerca de 54% em 2023.2

1.1 Métricas Agregadas e Tendências Recentes (2023–2025)

A trajetória das importações de pescado do Japão nos últimos três anos reflete uma interação complexa entre a escassez da produção doméstica (devido ao aquecimento dos oceanos e sobrepesca) e as pressões inflacionárias globais.

Volume e Valor: A Estabilização Pós-Pandémica

De acordo com as estatísticas comerciais divulgadas pelo Ministério das Finanças do Japão, o volume de importação de produtos pesqueiros em 2024 foi de 2.093.112 toneladas, um aumento marginal de 1% em relação ao ano anterior. O valor destas importações, contudo, subiu 2%, atingindo 1.947,8 mil milhões de ienes.1

Esta discrepância entre o crescimento do volume (+1%) e o crescimento do valor (+2%) é um indicador chave da “inflação do peixe” e da desvalorização cambial. O Iene fraco encareceu as importações, mas a inelasticidade da procura japonesa por certos produtos culturais (como o atum e o salmão) forçou o mercado a absorver estes custos.

Tabela 1.1: Evolução das Importações de Pescado do Japão (2023-2024)

Indicador2023 (Dados Consolidados)2024 (Dados Preliminares)Variação (%)Contexto Económico
Volume Total2.072.000 TM2.093.112 TM+1,0%Recuperação do setor HORECA (Hotéis, Restaurantes).
Valor Total (JPY)¥ 1.910 Bilhões¥ 1.947,8 Bilhões+2,0%Impacto cambial (Iene fraco) e custos logísticos.
Valor Total (USD)~$12,5 Bilhões~$12,71 Bilhões+1,7%Estabilidade relativa em moeda forte.
Categorias ChaveAtum, Camarão, SalmãoAtum, Camarão, SalmãoVariávelForte recuperação no camarão (+10%) e salmão (+9%).

Fonte: Seafood News, Ministério das Finanças do Japão.1

A Recuperação Setorial Específica

A análise detalhada dos dados de 2024 revela quais as espécies que estão a impulsionar este comércio, o que é vital para identificar oportunidades para exportadores lusófonos:

  • Atum Fresco e Congelado: As importações aumentaram 7%, totalizando 175.088 toneladas. Este é o “coração” do mercado de sushi, onde Portugal compete.1
  • Salmão e Truta: Um aumento robusto de 9% para 219.750 toneladas, refletindo a ocidentalização da dieta japonesa e a popularidade do salmão em cadeias de sushi de tapete rolante (kaiten-zushi).
  • Camarão: Após anos de declínio, o camarão registou um aumento de 10% em volume. Este dado é crítico para Moçambique, sugerindo uma reabertura do apetite japonês por crustáceos, embora o mercado esteja saturado por produtos de aquacultura.1

1.2 A Geopolítica dos Fornecedores: Quem Alimenta o Japão?

A cadeia de abastecimento do Japão é geograficamente diversificada, uma estratégia deliberada de segurança alimentar. No entanto, em 2024, observou-se uma mudança tectónica nas lideranças de mercado.

A Ascensão dos Estados Unidos e o Declínio Relativo da China

Os Estados Unidos reafirmaram a sua posição como o maior fornecedor de produtos agroalimentares e pesqueiros para o Japão, detendo 18,4% da quota de mercado em 2024. A China, tradicionalmente o maior fornecedor devido ao seu papel como centro de processamento (importar matéria-prima, processar, reexportar), viu a sua quota cair para 12,5%.3

Esta mudança não é apenas económica, mas geopolítica. As tensões sobre a libertação de águas tratadas da central nuclear de Fukushima levaram a fricções comerciais, e o Japão tem procurado diversificar as suas fontes longe da dependência chinesa. Além disso, a China tem consumido mais do seu próprio processamento interno.

Tabela 1.2: Ranking dos Principais Fornecedores de Pescado e Agroalimentar ao Japão (2024)

RankPaísValor Exportado (Biliões USD)Quota de MercadoProdutos Principais (Foco em Mar)
1Estados Unidos$18,918,4%Ovas de Salmão (Sujiko), Pollock (Surimi), Salmão Sockeye.
2China$12,912,5%Enguia processada (Unagi), Lulas, Camarão processado.
3Austrália$6,86,6%Atum Rabilho do Sul, Lagosta.
4Tailândia$6,46,2%Atum em conserva, Camarão preparado.
5Brasil*$5,45,3%Predominantemente Frango/Milho. Pescado é residual.
6Canadá$5,35,2%Caranguejo das Neves, Lagosta, Camarão de água fria.

Nota: A posição do Brasil no “Top 5” é enganadora se olhada apenas sob a ótica do pescado; ela reflete o poderio total do agronegócio. No entanto, posiciona o Brasil como um parceiro logístico de confiança. Fonte: Global Trade Tracker.3

O Papel dos Países de Reexportação e Processamento

É crucial notar que países como o Vietname (2,8% de quota) e a Tailândia funcionam como “cozinhas” do Japão. Eles importam peixe cru de todo o mundo (incluindo potencialmente do Brasil ou Angola), processam-no em filetes, sushi toppings ou conservas, e reexportam-no para o Japão. Isto significa que as estatísticas diretas muitas vezes subestimam a verdadeira origem da biomassa consumida no Japão.

Parte II: Brasil — O Gigante Adormecido das Águas

O Brasil apresenta um dos casos mais fascinantes e contraditórios no comércio com o Japão. É um parceiro comercial de primeira linha, fornecendo a maior parte do frango consumido no Japão e grandes volumes de café e soja. No entanto, no setor de pescado (Código HS 03 e HS 16), o Brasil é um ator de nicho, apesar de possuir a maior rede hidrográfica do mundo e uma costa de 8.000 km.

2.1 Análise Quantitativa das Exportações Brasileiras

Em 2024, as exportações totais do Brasil para o Japão atingiram 5,58 mil milhões de dólares.4 Desagregando este valor, encontramos a realidade do setor pesqueiro:

  • Preparações de Carne, Peixe e Marisco (HS 16): Exportações no valor de 28,53 milhões de dólares.4 Esta categoria inclui produtos processados, onde o valor acrescentado é maior. Comparativamente, a exportação de carne e miudezas (frango/boi) foi de 1,16 mil milhões de dólares, mostrando a disparidade de escala.
  • Produtos de Origem Animal (HS 05): Valor de 31,57 milhões de dólares. Esta categoria inclui tripas, bexigas e estômagos de animais, mas também pode incluir subprodutos marinhos como farinhas ou óleos específicos, embora seja dominada por subprodutos bovinos/suínos.
  • Peixe Congelado (HS 0303): O Brasil aparece nas estatísticas globais como um exportador de peixe congelado, mas para o Japão, os volumes diretos de peixe de consumo massivo (como tilápia congelada) ainda são baixos em comparação com os destinos como os EUA.

Por que o volume é baixo?

A logística brasileira de pescado está historicamente voltada para o mercado interno ou para os Estados Unidos (filé de tilápia fresco via aérea). O Japão exige congelação em alto mar ou processamento imediato de altíssima qualidade, infraestrutura que a frota industrial brasileira possui de forma limitada em comparação com as frotas asiáticas ou europeias.

2.2 O Nicho de Ouro: Peixes Ornamentais (HS 0301)

Se em volume de carne o Brasil perde, em biodiversidade ele lidera. O Japão possui uma cultura de aquariofilia extremamente sofisticada (“Nature Aquarium”, popularizado por Takashi Amano).

  • Dados de Comércio: Em 2023, o Japão foi um dos principais destinos dos peixes ornamentais brasileiros, importando aproximadamente 953.000 dólares.5
  • Espécies: O comércio foca-se em espécies amazónicas selvagens como o Acará-disco (Symphysodon), Tetras e Cascudos (Loricariídeos). O Japão valoriza a genética selvagem e a raridade, pagando prémios elevados por espécimes únicos que não podem ser replicados em cativeiro na Ásia. Este é um comércio de baixo volume, mas altíssimo valor unitário e complexidade logística.

2.3 A Nova Fronteira: Acordos Sanitários de 2025 e Ingredientes para Ração

Um desenvolvimento crítico ocorreu em setembro de 2025: o Brasil e o Japão concluíram negociações sanitárias permitindo a exportação de produtos à base de gordura animal (aves, suínos, bovinos) para alimentação animal e pet food no Japão.6

Implicação Estratégica para o Setor Pesqueiro:

Embora o acordo cite gorduras terrestres, ele abre o canal regulatório para “ingredientes de ração”. O Japão tem uma necessidade desesperada de proteínas e óleos para a sua indústria de aquacultura (para alimentar os seus stocks de Seriola e Dourada), uma vez que os preços da farinha de peixe global dispararam.2 O Brasil, como gigante da renderização (reciclagem animal), está agora posicionado para fornecer não apenas o peixe final, mas os insumos para produzir peixe no Japão. Se o Brasil conseguir incluir óleos de peixe ou farinhas de tilápia neste canal, o volume de exportação poderá multiplicar-se exponencialmente.

2.4 O Desafio da Tilápia

A tilápia brasileira é um sucesso nos EUA (89% das exportações), mas no Japão representa apenas 2% das exportações brasileiras da espécie.8

  • Barreira: O mercado japonês de peixe branco de preço médio é dominado pelo Pollock (dos EUA/Rússia) e pelo Pangasius (do Vietname). A tilápia brasileira, para entrar, precisa de ser posicionada não como uma “commodity barata”, mas como uma proteína sustentável e de qualidade superior. O aumento de 138% no valor das exportações de tilápia em 2024, impulsionado pela queda de preços internos no Brasil 8, sugere que os exportadores estão mais agressivos, o que pode eventualmente abrir mais portas em Tóquio.

Parte III: Portugal — O Guardião do Valor e a Rota do Atum

Portugal ocupa uma posição diametralmente oposta à do Brasil. Enquanto o Brasil luta por volume, Portugal joga o jogo do prestígio. A relação comercial de pescado entre Portugal e o Japão é histórica, técnica e focada no segmento de ultra-luxo.

3.1 A Ponte do Atum Rabilho (Bluefin Tuna)

O eixo central das exportações portuguesas para o Japão é o Atum Rabilho (Thunnus thynnus). A operação é liderada quase exclusivamente pela Tunipex, baseada em Olhão, Algarve.

O Método e a Valorização

A Tunipex utiliza armações de atum (Almadraba), um método de pesca passiva e sustentável. Os atuns são capturados vivos na sua rota migratória para o Mediterrâneo, transferidos para jaulas de engorda, e alimentados com cavala e sardinha até atingirem o teor de gordura ideal para o mercado de sashimi japonês.9

A Complexidade dos Dados Estatísticos

Analisar as exportações de atum português para o Japão exige “ler nas entrelinhas” das estatísticas aduaneiras:

  • Dados Diretos: As estatísticas oficiais mostram exportações modestas. Por exemplo, em 2023, Portugal exportou diretamente cerca de 98.100 dólares de atum rabilho congelado (HS 030345).11
  • A Realidade da Reexportação: A grande maioria do atum “português” é processada ou comercializada através de Espanha. Empresas espanholas como a Ricardo Fuentes e Hijos dominam a logística do Mediterrâneo.10 O atum é capturado em Portugal, muitas vezes transportado ou vendido a intermediários espanhóis, e depois enviado para o Japão. Assim, nas estatísticas de importação do Japão (Japão importa >12% do atum congelado global), esse peixe aparece frequentemente como espanhol.
  • Valor Real: Relatórios da indústria indicam que 68% a 90% da produção da Tunipex vai para o Japão.9 Considerando que um único atum de qualidade pode valer milhares de euros, o valor real deste comércio é de vários milhões de euros anuais, muito acima do registado no código HS direto.

3.2 As Conservas: Sardinha e Cavala como Luxo

Portugal transformou a sardinha em lata (HS 1604) de um produto de sobrevivência para um produto gourmet.

  • Desempenho em 2025: Em setembro de 2025, Portugal exportou 4,83 milhões de euros na categoria de “Peixes, Crustáceos e Moluscos” para o Japão.12 Uma parte significativa deste valor corresponde a conservas de alta qualidade e peixe congelado.
  • Dinâmica de Mercado: O consumidor japonês valoriza a embalagem, a história e a qualidade do azeite. As conservas portuguesas são vendidas em lojas de departamento de luxo (como Mitsukoshi ou Takashimaya) e bares de vinhos, não apenas em supermercados comuns. O preço médio de exportação das conservas portuguesas atingiu valores elevados (entre $22 e $45/kg em alguns mercados em 2024), posicionando-as como produtos de oferta (gift market).13

3.3 Peixe Fresco e a Logística Aérea

Existe um fluxo pequeno mas constante de peixe fresco (HS 0302) enviado por via aérea. Embora a distância seja um desafio (custo de frete elevado), espécies específicas que não existem no Pacífico podem encontrar nichos. Em 2023, Portugal exportou cerca de 34 milhões de dólares em filés frescos globalmente, com o Japão a ser um destino pontual para cortes específicos de atum ou espécies de profundidade.14

Parte IV: Moçambique e Angola — O Legado e o Potencial Africano

A presença da África Lusófona no mercado japonês é marcada por um legado colonial de exploração pesqueira (no caso de Moçambique) e por um potencial adormecido (no caso de Angola).

4.1 Moçambique: O Camarão Selvagem de Marca

Moçambique possui uma das marcas de marisco mais reconhecidas no Japão entre os importadores antigos: o “Mozambique Prawn” (Camarão de Moçambique), tipicamente o Penaeus monodon gigante selvagem.

Dados de Comércio e Estrutura

  • Exportações para o Japão: Em 2023, Moçambique exportou 1,83 milhões de dólares em crustáceos (HS 0306) para o Japão.15 Embora seja um valor respeitável, é uma fração do que exporta para a Espanha ($21,9 milhões), que é o seu principal mercado europeu.
  • Joint Ventures: O comércio é sustentado por empresas mistas históricas, como a Pescamar (capital espanhol-moçambicano, com laços comerciais japoneses) e a Efripel.16 Estas empresas operam navios-fábrica que congelam o camarão a bordo (“congelado no mar”), garantindo a qualidade sashimi que o Japão exige.

O Desafio da Concorrência

O camarão de Moçambique enfrenta uma crise existencial no Japão:

  1. Preço: O Japão tem importado massivamente camarão vannamei de aquacultura (mais barato) do Vietname e da Indonésia.
  2. Mudança de Consumo: O consumo de camarões gigantes inteiros (com cabeça) diminuiu em favor de camarões processados/descascados fáceis de cozinhar. O produto selvagem de Moçambique tornou-se um item de ultra-nicho para ocasiões especiais (como o Ano Novo), perdendo o mercado de massa.

4.2 Angola: O Gigante Petrolífero e o Peixe Invisível

A relação comercial de Angola com o Japão é dominada quase totalmente por hidrocarbonetos e diamantes.

  • Dados: Em setembro de 2025, o Japão importou apenas 27 milhões de ienes (aprox. 180 mil dólares) de Angola no total, com predominância de diamantes.17 Não há registos significativos de exportação de pescado em 2024.
  • O Potencial: A JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão) tem investido na reabilitação do porto do Namibe e em infraestruturas de pescas. Angola tem recursos ricos em carapau e sardinela, mas a falta de certificação sanitária e de cadeia de frio industrial impede o acesso ao exigente mercado japonês. O peixe angolano flui regionalmente para a RDC ou para Portugal, mas não para a Ásia.

Parte V: Análise Transversal e Insights de Segunda Ordem

Para além dos dados brutos, três forças invisíveis moldam este comércio.

5.1 O Efeito “Unagi” e a Transparência de Espécies

Um estudo de DNA recente revelou que 40% das enguias grelhadas (Kabayaki) vendidas no Japão são na verdade Enguia Americana (Anguilla rostrata), importada e processada na China, e não a enguia japonesa.18

Implicação para a Lusofonia: Isto demonstra que o Japão consome muito mais pescado “estrangeiro” do que os rótulos sugerem. Espécies capturadas em águas lusófonas (ex: tubarão, atum, enguias) podem estar a entrar no Japão rotuladas como produtos processados na China ou no Vietname. A estatística direta subestima a contribuição global real.

5.2 A Desvalorização do Iene (A Guerra Cambial)

O Iene fraco (tocando mínimos históricos em 2024/25) tornou as importações muito caras para os japoneses.

  • Impacto: Os importadores japoneses estão a “trocar para baixo” (trading down). Em vez de atum rabilho premium de Portugal, podem optar por atum patudo mais barato. Em vez de camarão gigante de Moçambique, optam pelo vannamei tailandês. Isto coloca pressão sobre os exportadores lusófonos para justificarem o seu preço através de branding de qualidade inegociável.

5.3 O Fenómeno do Surimi e a Segurança Alimentar

O Japão aumentou a importação de Surimi (pasta de peixe) dos EUA e da Ásia.20 O Brasil e Angola, com grandes biomassas de peixes de menor valor comercial, poderiam teoricamente entrar neste mercado de “proteína base” se investissem em tecnologia de processamento de surimi, algo que ainda não fizeram em escala de exportação.

Conclusão

A exportação de pescado dos países lusófonos para o Japão não é uma história de volume, mas de especialização extrema e oportunidades latentes.

  1. Globalmente, o Japão continua a ser um “buraco negro” que atrai 12,7 mil milhões de dólares em pescado anualmente, mas a sua geografia de fornecimento está a mudar da China para parceiros mais estáveis e diversificados.
  2. Brasil é o parceiro logístico confiável que ainda não “acordou” para o mar, mas cujos novos acordos de 2025 sobre ingredientes de ração podem ser o “cavalo de Troia” para entrar na cadeia de valor da aquacultura japonesa.
  3. Portugal detém a joia da coroa com o Atum Rabilho, operando num nível de sofisticação que o protege parcialmente das flutuações de preço, embora dependa de cadeias de reexportação espanholas.
  4. Moçambique luta para manter o seu legado de prestígio num mercado inundado por camarão barato.

Para os exportadores lusófonos, o sucesso no Japão em 2025 e além não virá de competir com o Vietname em preço, mas de alavancar a narrativa de “Origem, Sustentabilidade e Pureza” — atributos pelos quais o consumidor japonês, mesmo com o Iene fraco, ainda está disposto a pagar.

Quadro Resumo de Dados (Estimativas 2023-2025)

PaísExportação Pescado (Est. Anual)Produto EstrelaPrincipal DesafioOportunidade Futura
Japão (Import Global)$12,7 Biliões (Total)Salmão, Atum, CamarãoIene Fraco, EnvelhecimentoProdutos prontos a comer.
Brasil~$30 Milhões (Prep.)Ornamentais, SubprodutosFoco em Frango/SojaIngredientes para ração Aqua.
Portugal~$5-10 Milhões*Atum Rabilho, ConservasReexportação via EspanhaTurismo gastronómico.
Moçambique~$1,8 MilhõesCamarão SelvagemAquacultura AsiáticaMarca “Selvagem/Bio”.
Angola< $200k (Negligenciável)N/AInfraestruturaPesca industrial futura.

Nota: O valor de Portugal inclui estimativas de fluxos indiretos e variações sazonais altas.

Referências citadas

  1. Japan's 2024 Fishery Product Imports Up Slightly by 1% at 2.09 …, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.seafoodnews.com/Story/1297047/Japans-2024-Fishery-Product-Imports-Up-Slightly-by-1-percent-at-2-point-09-Million-MT
  2. Higher Prices Lead to Rise in Japan's Fisheries Production Value While Volume Drops, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.nippon.com/en/japan-data/h02449/
  3. Sector Trend Analysis – Trade Overview – Japan – agriculture.canada.ca, acessado em dezembro 25, 2025, https://agriculture.canada.ca/en/international-trade/reports-and-guides/sector-trend-analysis-trade-overview-japan
  4. Brazil Exports to Japan – 2025 Data 2026 Forecast 1989-2024 Historical, acessado em dezembro 25, 2025, https://tradingeconomics.com/brazil/exports/japan
  5. Ornamental Fish in Brazil Trade | The Observatory of Economic Complexity, acessado em dezembro 25, 2025, https://oec.world/en/profile/bilateral-product/ornamental-fish/reporter/bra
  6. Brazil will now sell feed ingredients to Japan, a market that already imported US$3,3 billion from our agribusiness in 2024., acessado em dezembro 25, 2025, https://en.clickpetroleoegas.com.br/Brazil-will-now-sell-feed-ingredients-to-Japan–a-market-that-already-imported-US%2433-billion-from-our-agribusiness-in-2024.-ctl01/
  7. Brazil Secures New Market Access for Agribusiness in Japan – Portal Gov.br, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.gov.br/agricultura/en/news/brazil-secures-new-market-access-for-agribusiness-in-japan
  8. Brazilian Fish Farming Achieves Record Export Growth in 2024 – Seafood Media Group – Worldnews, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.seafood.media/fis/worldnews/worldnews.asp?country=0&day=24&df=0&id=133373&l=e&monthyear=1-2025&ndb=1&special=0
  9. The Portuguese Bluefin Tuna Business With Japanff – Atuna, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.atuna.com/archive/?article=10191
  10. ABOUT US – Fuentes, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.atunrojofuentes.com/en/about/
  11. Frozen Atlantic and Pacific Bluefin Tuna (Thunnus thynnus/orientalis, excl. Fillets, etc.) in Portugal Trade | The Observatory of Economic Complexity, acessado em dezembro 25, 2025, https://oec.world/en/profile/bilateral-product/frozen-atlantic-and-pacific-bluefin-tuna-thunnus-thynnusorientalis-excl-fillets-etc/reporter/prt
  12. Portugal (PRT) and Japan (JPN) Trade | The Observatory of Economic Complexity, acessado em dezembro 25, 2025, https://oec.world/en/profile/bilateral-country/prt/partner/jpn
  13. Price for Canned Sardines in Portugal – Tridge, acessado em dezembro 25, 2025, https://dir.tridge.com/prices/canned-sardines/PT
  14. Fresh Fish Fillet Price in Portugal – 2025 – Charts and Tables – IndexBox., acessado em dezembro 25, 2025, https://www.indexbox.io/search/fresh-fish-fillet-price-portugal/
  15. Crustaceans in Mozambique Trade | The Observatory of Economic Complexity, acessado em dezembro 25, 2025, https://oec.world/en/profile/bilateral-product/crustaceans/reporter/moz
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  17. Japan (JPN) and Angola (AGO) Trade | The Observatory of Economic Complexity, acessado em dezembro 25, 2025, https://oec.world/en/profile/bilateral-country/jpn/partner/ago
  18. Unmasking unagi: What DNA testing reveals about American eel in Japan's markets, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.globalseafood.org/advocate/unmasking-unagi-what-dna-testing-reveals-about-american-eel-in-japans-markets/
  19. Nearly 40% of grilled eel products in Japanese retail market identified as American eel, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.eurekalert.org/news-releases/1088471
  20. JAPAN: May Surimi Product Exports Rise 20% to JPY 900 million for the U.S., Hong Kong, and Taiwan – Seafoodnews, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.seafoodnews.com/Story/1230513/JAPAN-May-Surimi-Product-Exports-Rise-20-percent-to-JPY-900-million-for-the-US-Hong-Kong-and-Taiwan
  21. Japan's January-March Surimi Product Export Hits Record High, Up 16% to 3048 Tons, acessado em dezembro 25, 2025, https://www.seafoodnews.com/Story/1225713/Japans-January-March-Surimi-Product-Export-Hits-Record-High-Up-16-percent-to-3048-Tons