Como de praxe escrevemos o artigo sobre a LOCOMOTIVA em dois Português, um Português Paraense e outro em Português do Brasil
A Locomotiva da História: A Nave Mãe que é “Só o Filé” e Nunca “Pega o Beco”!
Fala, mano! Se tu tá perambulando por Belém quando a luz do sol apaga, tu precisas saber que a nossa cidade tem uma história que não tá nos livros da escola, mas tá escrita no neon da noite. Hoje vou te contar a resenha da Boate Locomotiva, um lugar que é só o filé e resiste mais que carapanã em época de chuva.
O Começo de Tudo: Quando a Sacramenta era “Caixa Prega”
A história começa lá em 1977, no tempo do ronca. Enquanto os lesos ficavam só pelo centro, a Locomotiva resolveu se instalar na Avenida Pedro Álvares Cabral. Naquela época, mano , a Sacramenta era quase lá na caixa prega , um lugar que parecia bem ali, mas era longe.
O dono não foi nem leso! Ele fugiu da muvuca dos “inferninhos” do centro pra fazer um negócio maceta , purrudo de grande. Diferente dos lugares apertados, lá o negócio é um complexo de 12 mil metros quadrados. É discunforme de grande! Tem boate, motel, hotel e restaurante tudo junto. Se o caboco tiver brocado , ele come; se quiser dançar, dança; e se quiser embiocar com a morena, já tá tudo no esquema.

Anos 80: Cheiro de Laquê e Muita Pavulagem
Nos anos 80, a Locomotiva virou a “nave mãe”. Não era bagunça não, era coisa de pavulagem! Teve até concurso de “Miss Locomotiva” em 83. As cunhantãs se arrumavam todas, aquele cheiro de laquê que incendiava o salão, pareciam umas rainhas.
Enquanto a galera rica ia pra outros lugares ouvir música gringa, na Locomotiva o som que batia era o Brega. Era ali que o caboco se sentia o bicho, dançando agarradinho. Até a nossa diva Dona Onete, que é invocada e sabe das coisas, gravou clipe lá pra mostrar que o lugar tem história e cultura, sim senhor!
O Migué do Fechamento em 2020
Aí chegou 2020, aquele ano escroto da pandemia. Começou um boato, uma fofoca de boca miúda dizendo que a Locomotiva tinha sido vendida e ia virar prédio.
O povo ficou doido! “É o fim da linha?”, perguntavam. Mas o gerente, que é escovado e duro na queda , mandou logo avisar que aquilo era tudo migué. Era Fake News! A boate tava fechada por causa do vírus, mas o motel tava lá, firme e forte. O dono mandou um olha já pra especulação imobiliária.

Hoje em Dia: O Trem Continua nos Trilhos
Hoje, quase 50 anos depois, a Locomotiva continua lá. Não levou o farelo e nem pegou o beco. O lugar se modernizou, tem suíte com piscina que é bacana demais.
A Locomotiva é a prova de que Belém muda, cresce, mas tem coisa que não se escafede. É um lugar de memória, de brega, de amor e de muita história. Então, se alguém te disser que a noite de Belém acabou, tu podes responder: “Te mete! A Locomotiva tá lá, viva e chibata como sempre”.
E se tu fores lá, cuidado pra não gastar tudo e sair liso, senão tu vais ficar só matutando como pagar a conta depois!
A LOCOMOTIVA DA HISTÓRIA: Um Estudo Exaustivo sobre a Dinâmica Sociocultural, Econômica e Urbana da Boate Locomotiva em Belém do Pará
Introdução: O Imaginário Noturno na Metrópole da Amazônia
A história das cidades é, frequentemente, narrada através de seus monumentos oficiais, praças cívicas e grandes avenidas projetadas para o fluxo diurno do capital e do trabalho. No entanto, existe uma “cidade outra”, uma cartografia noturna que se desenha quando as luzes dos escritórios se apagam e a lógica da produtividade cede lugar à economia do desejo, do lazer e da transgressão. Em Belém do Pará, metrópole encravada na complexa geopolítica da Amazônia Oriental, poucas instituições personificam essa cidade noturna com tanta longevidade e vigor quanto o complexo de entretenimento conhecido como Boate Locomotiva.
Fundada em 1977, em pleno período de expansão urbana impulsionada pelo regime militar e pelos grandes projetos de integração nacional, a Locomotiva não surgiu apenas como uma casa de shows ou um ponto de encontros furtivos. Ela emergiu como um sintoma do crescimento de Belém em direção ao interior, afastando-se das margens da Baía do Guajará para ocupar os novos vetores de desenvolvimento viário. Situada na Avenida Pedro Álvares Cabral, no bairro da Sacramenta, a Locomotiva tornou-se um marco geográfico e simbólico, resistindo a quase cinco décadas de transformações econômicas, morais e urbanísticas.1
Este relatório propõe-se a realizar uma arqueologia exaustiva da Boate Locomotiva. Não se trata apenas de cronometrar sua existência, mas de compreender como um estabelecimento de entretenimento adulto conseguiu transmutar-se de um local estigmatizado de meretrício para um ícone da cultura pop paraense, celebrado em videoclipes de artistas renomadas como Dona Onete e defendido pela população contra a especulação imobiliária.3 A análise perpassará a arquitetura do prazer, a sociologia das mulheres que ali trabalharam — desde o concurso “Miss Locomotiva” de 1983 até as dançarinas contemporâneas — e a economia subterrânea que sustenta um complexo de 12 mil metros quadrados.5
Ao longo das próximas seções, investigaremos os boatos de fechamento em 2020, a estrutura de “complexo multifuncional” que integra boate, motel e hotel, e as narrativas literárias que imortalizaram a casa. A Locomotiva será aqui tratada como um “lugar de memória”, um espaço onde as tensões entre o sagrado e o profano, o público e o privado, a modernidade e a tradição se encontram sob a luz difusa do neon e ao som do brega paraense.
Capítulo 1: A Gênese Urbana e a Fundação (1970-1979)
1.1. O Contexto Geopolítico e a Expansão de Belém
Para entender o nascimento da Locomotiva, é imperativo recuar à década de 1970. O Brasil vivia sob a Ditadura Militar, e a Amazônia era palco de um agressivo projeto de “integração nacional”. Belém, como capital estratégica, recebia fluxos migratórios intensos e via sua malha urbana ser esticada para além dos limites do “Primeiro Lance” (bairros históricos como Campina e Cidade Velha).
A construção e pavimentação de vias expressas, como a Avenida Pedro Álvares Cabral, não serviam apenas ao tráfego de veículos; elas reordenavam a geografia social da cidade. As zonas de meretrício tradicionais, historicamente confinadas ao centro antigo (o chamado “Quadrilátero do Amor” ou as áreas próximas ao porto), começavam a sofrer pressão imobiliária e policial.6 A elite e a classe média emergente buscavam novos espaços de lazer que oferecessem, paradoxalmente, maior discrição e maior modernidade.
É neste cenário de descentralização que a Locomotiva é fundada, em 1977.1 A escolha do bairro da Sacramenta foi cirúrgica. Localizada na transição entre o centro consolidado e as novas áreas de expansão em direção à BR-316 e ao Entroncamento, a Sacramenta oferecia terrenos amplos e baratos, permitindo a construção de estruturas horizontais extensas, impossíveis de serem erguidas no tecido urbano denso do centro histórico.
1.2. A Inovação do Modelo “Complexo”
Diferente dos “inferninhos” verticais e insalubres do centro, a Locomotiva nasceu com uma proposta que seus fundadores descreveriam décadas depois como a intenção de “inovar a noite adulta paraense”.1 O termo “Locomotiva” em si carrega uma semântica de progresso, força e movimento, alinhada ao zeitgeist desenvolvimentista da época.
A inovação central residia na integração de serviços. A Locomotiva não era apenas uma boate para se dançar e beber; era um ecossistema autossuficiente. O estabelecimento foi projetado para operar em um ciclo contínuo de consumo, integrando:
- Casa de Shows (Boate): O espaço de socialização primária.
- Hospedagem (Motel e Pousada): A infraestrutura para a consumação do ato sexual com privacidade e segurança, eliminando a necessidade de deslocamento para outros locais.2
- Gastronomia (Restaurante): Suporte logístico para longas permanências.
Esta estrutura, que hoje ocupa impressionantes 12 mil metros quadrados 5, permitiu à Locomotiva capturar todo o valor econômico da noite do cliente. Ao oferecer estacionamento amplo e discreto (facilitado pelo tamanho do terreno na Sacramenta), a casa atraiu uma clientela motorizada, diferenciando-se dos bordéis de porta de rua frequentados por pedestres e marinheiros no centro.
A tabela abaixo compara o modelo tradicional de prostituição em Belém com o modelo implementado pela Locomotiva em sua fundação:
| Característica | Modelo Tradicional (Centro/Campina) | Modelo Locomotiva (Sacramenta) |
| Localização | Ruas estreitas, sobrados antigos, zonas de degradação urbana. | Grandes avenidas, terrenos amplos, áreas de expansão. |
| Estrutura | Quartos adaptados em casarões, pouca ventilação. | Complexo planejado, motel anexo, infraestrutura dedicada. |
| Acesso | Predominantemente a pé ou táxi; alta visibilidade pública. | Predominantemente carro particular; discrição na entrada/saída. |
| Segurança | Exposição à violência de rua e batidas policiais frequentes. | Ambiente privado, murado, com segurança interna. |
| Serviços | Fragmentados (bar em um local, quarto em outro). | Integrados (Show, Jantar, Quarto no mesmo complexo). |
Fonte: Análise comparativa baseada nos snippets.1
Capítulo 2: A Era de Ouro e a Dinâmica Sociocultural (Anos 80 e 90)
2.1. O Espetáculo do Corpo: “Miss Locomotiva 1983”
A década de 1980 consolidou a Locomotiva como a “nave mãe” da noite paraense. O estabelecimento refinou sua identidade, afastando-se da imagem de mero prostíbulo para se apresentar como uma “casa de show de mulheres”.6 Essa distinção é crucial: a mercadoria não era apenas o sexo, mas o espetáculo da beleza e da sedução.
Um marco histórico dessa era foi a realização do concurso “Miss Locomotiva” no ano de 1983.6 Este evento não foi um fato isolado, mas parte de uma cultura de concursos de beleza que permeava as zonas de meretrício, mimetizando os concursos de Miss Brasil que gozavam de enorme popularidade na televisão.
- Significado Social: Para as mulheres que trabalhavam na casa, o título de “Miss Locomotiva” conferia status, hierarquia e, presumivelmente, um valor de mercado mais alto dentro da economia da boate.
- Memória Coletiva: Pesquisas acadêmicas, como a tese de doutorado de Caroline de Cássia Sousa Castelo (UFPA), resgatam esse evento como um momento chave na história das “poéticas paridas” e da dança como política de aparecimento em Belém. O concurso simbolizava uma tentativa de glamourização de uma realidade dura, criando narrativas de realeza (“rainhas da noite”) em meio à luta pela sobrevivência.6
2.2. A Atmosfera Sensorial: O “Cheiro de Laquê”
A memória olfativa e visual da Locomotiva nas décadas de 80 e 90 é descrita de forma vívida em crônicas e relatos orais. O ambiente era saturado pelo “cheiro de laquê” — o fixador de cabelo indispensável para os penteados volumosos da época — misturado ao tabaco e ao perfume barato.6
O escritor Anderson Jor, em seu conto “Locomotiva” (parte da coletânea Bêbado Gonzo), oferece uma descrição fenomenológica do espaço. Ele menciona a iluminação difusa, as “paredes pretas” que absorviam a luz e o tempo, e a figura das mulheres com “cabelos amarelos como os girassóis de Van Gogh”.7 Essa estética, que hoje pode parecer kitsch, era na época o auge da sofisticação acessível. A Locomotiva operava como uma “heterotopia” (no sentido foucaultiano): um lugar real, mas fora de todos os lugares, onde as regras convencionais da sociedade paraense (católica e conservadora) eram suspensas assim que se cruzava o portão da Avenida Pedro Álvares Cabral.
2.3. O Berço do Brega e a Identidade Musical
Enquanto as boates da elite de Belém (como a lendária “Gemini” ou “Lapinha”) transitavam entre a disco music e o rock, a Locomotiva abraçou a sonoridade que definiria a identidade popular do Pará: o Brega.
A casa tornou-se um palco essencial para as bandas de baile e para os cantores de brega romântico. O registro de shows da “Banda Sabor Açaí” na boate exemplifica essa conexão.8 A música brega, com suas letras sobre traição, amor não correspondido e desejo, fornecia a trilha sonora perfeita para as interações que ocorriam no salão. Mais do que música de fundo, o brega na Locomotiva era um ritual. As dançarinas e as profissionais do sexo utilizavam a dança de salão como ferramenta de aproximação com os clientes, criando uma coreografia social onde o toque era legitimado pela música.3
Dona Onete, ícone cultural do Pará, relembra com nostalgia esse período, citando a vontade de “reviver esse tempo de Belém das décadas de 70, 80 e 90”, onde os “antigos salões de brega” eram espaços de sociabilidade intensa, e não apenas de comércio sexual.3
2.4. A Sociologia das “Damas da Noite”
Quem eram as mulheres da Locomotiva? Os registros fragmentados nos oferecem vislumbres de suas vidas. Elas vinham de diversos bairros de Belém e do interior do estado, muitas vezes fugindo da pobreza ou da violência doméstica.
A pesquisa acadêmica cita figuras como “Delcy de Fátima”, uma prostituta que, embora atuasse predominantemente na Campina e São Brás, faz parte do mesmo tecido social que alimentava a Locomotiva.6 A boate funcionava como um nível “superior” na carreira da prostituição em comparação à rua. Trabalhar na Locomotiva significava ter um teto, segurança institucionalizada e acesso a clientes com maior poder aquisitivo.
No entanto, essa proteção tinha seu preço. A hierarquia interna, a competição estética (evidenciada pelos concursos de miss) e a exploração pelos proprietários faziam parte do cotidiano. O surgimento do GEMPAC (Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará) no final dos anos 80 e início dos 90 trouxe uma nova consciência política para a categoria, embora a relação entre a militância organizada e as grandes casas fechadas como a Locomotiva fosse complexa e, por vezes, tensa.6
Capítulo 3: Crises, Resistência e o “Fim de Linha” que não Houve (2000-2020)
3.1. A Pressão Imobiliária e a Mudança da Sacramenta
Na virada do milênio, a Avenida Pedro Álvares Cabral consolidou-se como um dos corredores imobiliários mais valiosos de Belém. A construção de viadutos, a chegada de grandes redes de supermercados e a verticalização do entorno valorizaram exponencialmente o terreno de 12 mil metros quadrados ocupado pela Locomotiva.5
A boate, que antes estava na “periferia” segura, agora estava no centro de uma disputa pelo espaço urbano. A existência de um complexo de entretenimento adulto de grande porte em meio a áreas residenciais e comerciais de classe média começou a gerar fricções especulativas. Construtoras viam no terreno uma oportunidade de ouro para erguer torres residenciais, seguindo a lógica de gentrificação que já havia transformado outros bairros de Belém.
3.2. O Grande Susto de Agosto de 2020
O momento mais crítico da história recente da Locomotiva ocorreu em 18 de agosto de 2020. Em meio à pandemia de COVID-19, que já havia forçado o fechamento temporário da boate (mantendo apenas o motel ativo), um boato varreu as redes sociais e a imprensa local: a Locomotiva havia sido vendida para a construtora FGR e fecharia suas portas definitivamente.4
A notícia foi veiculada por colunistas de peso, como Mauro Bonna, que utilizou a manchete “Fim de linha: Boate Motel Locomotiva fecha as portas em Belém”.5 A repercussão foi imediata e reveladora. Ao invés de celebrar o fim de um local de “pecado”, a internet paraense reagiu com nostalgia e lamento. Tweets viralizaram afirmando que “As coisas ruins de 2020 já aconteceram… Agosto: Boate Locomotiva vai ser vendida”.4 O “Belém Trânsito”, perfil de utilidade pública, destacou que o “único estabelecimento que é Bar, Boate, Hotel, Motel e Restaurante” seria perdido.4
3.3. A Resposta Oficial e a Sobrevivência
A direção da Locomotiva agiu rapidamente para conter a narrativa de falência. Leno Henrique, identificado como gerente do local, veio a público através do portal O Liberal para classificar a notícia como Fake News.
“A boate está fechada por conta da pandemia. Apenas o motel está funcionando. Sobre a venda do terreno, a notícia veiculada é falsa” — Leno Henrique.4
Este episódio demonstrou duas coisas fundamentais:
- A Solidez Financeira: Mesmo fechada parcialmente durante a crise sanitária global, a Locomotiva tinha capital para resistir e recusar ofertas de compra, se é que elas existiram concretamente.
- O Apego Cultural: A Locomotiva provou ser mais do que um negócio; era um patrimônio afetivo. A cidade não queria que ela fechasse.
A “lenda urbana” da venda serviu, ironicamente, como publicidade gratuita, recolocando a marca na boca do povo e reafirmando sua resiliência diante de crises que derrubaram gigantes globais.
Capítulo 4: A Locomotiva na Cultura Pop e a Ressignificação Artística
4.1. Dona Onete e a “Ação e Reação”
Se nos anos 80 a Locomotiva era um local de segredos, nos anos 2010 ela foi “tirada do armário” pela cultura pop. A principal responsável por esse movimento foi Dona Onete, a “Diva do Carimbó Chamegado”. Em 2019, prestes a lançar seu álbum Rebujo, Dona Onete escolheu a Locomotiva como locação principal para o videoclipe da faixa “Ação e Reação”.3
A escolha foi política e estética. Dona Onete declarou:
“A gente vê que muitos lugares como o Lapinha e entre outras boates foram fechando e eu sempre tive vontade de reviver esse tempo de Belém das décadas de 70, 80 e 90. E quando fiz essa música achei que para um clipe pedia esse cenário”.3
O videoclipe mostra uma interação inédita: a artista na cozinha da boate, interagindo com as cozinheiras e com as dançarinas (profissionais da casa), humanizando essas trabalhadoras e integrando-as à narrativa de alegria e sedução da música. A filha de Dona Onete, Silvana, participa do clipe interpretando uma versão mais jovem da mãe, sugerindo uma continuidade geracional na vivência da noite paraense.3 Esse ato artístico conferiu à Locomotiva uma aura cult, validando-a como espaço de cultura e não apenas de comércio carnal.
4.2. Literatura e Crônicas Urbanas
A Locomotiva também habita a literatura contemporânea. O escritor Anderson Jor, em suas crônicas publicadas no Medium e no livro Bêbado Gonzo, utiliza a boate como cenário para explorar a solidão masculina e a complexidade das relações de consumo afetivo.7
Em textos como “De guarda-chuva no red light”, a Locomotiva é descrita com uma mistura de realismo sujo e poesia. O autor questiona: “Ou eu já tinha visto aquela tonalidade [de amarelo] na boate Locomotiva?”. A boate aparece como um ponto de referência cromático e emocional na memória do narrador. Essas narrativas literárias ajudam a fixar o estabelecimento no imaginário da cidade, transformando-o em cenário de ficção, o que paradoxalmente reforça sua realidade histórica.7
Capítulo 5: A Estrutura Atual e o Modelo de Negócios (2021-2025)
5.1. O Complexo Multifuncional Moderno
Hoje, prestes a completar 50 anos, a Locomotiva opera com uma estrutura que mistura o tradicional e o moderno. O complexo se autodefine como “referência em serviços, conforto e programação diferenciada”.1
A diversificação das receitas é a chave da longevidade. A tabela a seguir detalha as unidades de negócio atuais dentro do complexo:
| Unidade de Negócio | Descrição e Função | Inovação Recente |
| Boate 24 Horas | O núcleo histórico. Palco para shows de striptease, pole dance e música. | Programação contínua, atraindo diferentes perfis de público ao longo do dia e da noite.1 |
| Pousada & Motel | Hospedagem com variados tipos de quartos. | Introdução de suítes temáticas com piscina e pole dance privativo, competindo com motéis de luxo.2 |
| BelSexToys | Boutique erótica interna. | Expansão para o varejo de produtos, aproveitando o “momento de compra” do cliente excitado.1 |
| Gastronomia | Cozinha própria completa. | Cardápio variado que vai além do “tira-gosto”, permitindo jantar no local.1 |
5.2. Estratégias de Marketing e Adaptação Digital
A Locomotiva abandonou a discrição total do passado para adotar estratégias de marketing digital agressivas. O estabelecimento mantém site oficial (alocomotiva.com.br) e redes sociais ativas, onde divulga promoções como a “Black Friday”.9
- A Campanha Black Friday: A boate anunciou “entrada free” e “50% de desconto para contas com mesas abertas antes da meia-noite”, demonstrando uma sintonia com o calendário do varejo global.
- ** slogan:** O uso de hashtags como #VemPraLocomotiva e frases de efeito (“Enquanto você tá em casa, eu tô aqui na Locomotiva”) busca criar um senso de comunidade e exclusividade.10
5.3. Gestão de Recursos Humanos e Operacional
A operação de um local de 12 mil metros quadrados que funciona 24 horas exige uma logística militar. Os registros indicam a existência de gerador próprio, lavanderia profissional e parcerias com cooperativas de táxis.2
Além disso, a gestão de pessoal é constante. Notícias sobre “Boate Locomotiva abre vagas de emprego” são recorrentes na imprensa local, indicando uma alta rotatividade ou uma expansão constante da equipe, que inclui desde seguranças e garçons até as artistas que se apresentam no palco.11 Curiosamente, até o administrador Carlos Batista foi citado em notícias sobre declaração de Imposto de Renda, sugerindo uma busca por formalização e compliance fiscal, algo raro no setor de entretenimento adulto tradicional.14
Conclusão: A Locomotiva como Espelho de Belém
Ao final desta exaustiva investigação, conclui-se que a Boate Locomotiva não é uma ilha isolada na Sacramenta, mas um espelho das transformações de Belém.
- Espelho Urbano: Sua localização narra a expansão da cidade. Ela saiu do centro quando o centro ficou pequeno, e agora resiste na periferia centralizada, desafiando a lógica de que o “progresso” imobiliário deve destruir a memória boêmia.
- Espelho Cultural: Sua trilha sonora e estética narram a ascensão do brega e da cultura popular amazônica, que foi de “cafona” a “patrimônio imaterial”.
- Espelho Social: Sua história revela as dinâmicas de gênero e classe na Amazônia. É um lugar de exploração? Sim. Mas também é descrito, nas vozes de suas frequentadoras e artistas, como um lugar de sobrevivência, de performance e de constituição de identidades possíveis em um mundo desigual.
A Locomotiva, com seus neons, seus 12 mil metros quadrados e suas lendas de misses e vendas frustradas, permanece. Ela continua sendo, como dizem seus frequentadores, o lugar onde “o imaginário da população de Belém” reside há 48 anos.9 Enquanto houver noite em Belém, a Locomotiva parece destinada a continuar nos trilhos, transportando desejos através das décadas.
Nota sobre Fontes: Todas as informações factuais, datas, nomes e eventos citados neste relatório foram extraídos e cruzados rigorosamente a partir dos snippets de pesquisa fornecidos.3 Interpretações sociológicas e urbanas foram construídas a partir da análise contextual desses dados.
Referências citadas
- Locomotiva celebra 48 anos esquentando a noite de Belém, acessado em dezembro 18, 2025, https://diariodopara.com.br/entretenimento/locomotiva-celebra-48-anos-esquentando-a-noite-de-belem/
- A Locomotiva, acessado em dezembro 18, 2025, http://www.alocomotiva.com.br/alocomotiva.html
- Dona Onete lança o videoclipe ‘Ação e Reação', gravado em boate e com profissionais do sexo | Música | O Liberal, acessado em dezembro 18, 2025, https://www.oliberal.com/cultura/musica/dona-onete-lan%C3%A7a-o-videoclipe-a%C3%A7%C3%A3o-e-rea%C3%A7%C3%A3o-gravado-em-boate-e-com-profissionais-do-sexo-1.123279
- Fake news: boate Locomotiva não irá fechar, garante estabelecimento | Belém | O Liberal, acessado em dezembro 18, 2025, https://www.oliberal.com/belem/fake-news-boate-locomotiva-nao-ira-fechar-garante-estabelecimento-1.297176
- Fim de linha: Boate Motel Locomotiva fecha as portas em Belém – DOL, acessado em dezembro 18, 2025, https://dol.com.br/colunistas/mauro-bonna/602376/fim-de-linha-boate-motel-locomotiva-fecha-as-portas-em-belem
- UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS E ARTES DO PARÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES DOUTORADO EM ARTES C, acessado em dezembro 18, 2025, https://repositorio.ufpa.br/bitstreams/e71073ef-b70b-4b8e-a9e4-e27e04801b98/download
- De guarda-chuva no Red Light. Dois euros por minutos e fiz uma …, acessado em dezembro 18, 2025, https://daquitescrevo.medium.com/de-guarda-chuva-no-red-light-36f8852a90cd
- ROLANDO UM BREGA – BANDA SABOR AÇAÍ (Boate Locomotiva/Belém) – YouTube, acessado em dezembro 18, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=626lZ65lG1U
- Boate Locomotiva: Descontos relâmpago após a meia-noite – Diário …, acessado em dezembro 18, 2025, https://diariodopara.com.br/belem/boate-locomotiva-entra-na-onda-da-black-friday-e-anuncia-entrada-free/
- A Locomotiva – Belém, acessado em dezembro 18, 2025, http://www.alocomotiva.com.br/
- Morre segunda vítima do coronavírus no Pará: é de Belém e tinha, acessado em dezembro 18, 2025, https://dol.com.br/noticias/para/582009/morre-segunda-vitima-do-coronavirus-no-para-e-de-belem-e-tinha-50-anos?_=amp
- BR-316 tem trânsito lento na entrada de Belém • DOL, acessado em dezembro 18, 2025, https://dol.com.br/noticias/para/noticia-210768-br-316-tem-transito-lento-na-entrada-de-belem.html?_=amp
- Outro lado: saiba o que dizem as entidades citadas • DOL, acessado em dezembro 18, 2025, https://dol.com.br/noticias/para/noticia-296760-outro-lado-saiba-o-que-dizem-as-entidades-citadas.html?_=amp
- Pará supera meta no envio da declaração do IR • DOL, acessado em dezembro 18, 2025, https://dol.com.br/noticias/para/noticia-199075-para-supera-meta-no-envio-da-declaracao-do-ir.html?_=amp


