Become a member

Get the best offers and updates relating to Liberty Case News.

― Advertisement ―

spot_img
InícioEstilo de VidaArte & CulturaEtnografia, Patrimonialização e Dinâmicas Socioculturais do Arraial do Pavulagem: Um Estudo Exaustivo...

Etnografia, Patrimonialização e Dinâmicas Socioculturais do Arraial do Pavulagem: Um Estudo Exaustivo sobre a Ressignificação da Cultura Popular na Amazônia Urbana

É Pavulagem das Grandes: O Arraial que Faz Belém Tremer!

Fala, parente! Tás aí embiocado em casa, sem saber o que tá rolando de bom? Deixa de ser leso e presta atenção, porque o papo hoje é de rocha! Vamos falar do Arraial do Pavulagem, que não é qualquer bandalhêra não, é um negócio estorde de grande!

Tu podes até achar que é só uma festinha, mas te orienta! O Arraial, bem ali no coração de Belém, é muito mais que isso. É um movimento pai d'égua que mistura nossa música, nossa dança e afirma quem nós somos de verdade. O negócio é tão chibata que virou Patrimônio Cultural Nacional. Te mete!

De Experimento a Tradição Parruda

Oha, maninho, essa história já tem quase 40 anos. No começo, era só uma experiência musical, uma galera querendo valorizar nossas raízes. Mas o tempo passou e o negócio ficou téba, gigante mesmo! Hoje, o Instituto Arraial do Pavulagem comanda essa bumbarqueira que junta um bocado de gente — é multidão até o tucupi!

E vou te contar um segredo boca miúda : isso tudo nasceu porque a gente é duro na queda. Na época que só vinha coisa lá do Sul e Sudeste querendo mandar no nosso gosto, os nossos artistas invocados disseram: “Nada disso! A gente vai fazer uma modernidade amazônica!”. É o nosso jeito de preservar a sabedoria dos mestres sem ficar com cheiro de naftalina, dialogando com a juventude e até com essa tal de COP 30 que vem aí.

O Batalhão que é Só o Filé

Quando o Arrastão sai na rua, égua, é de arrepiar! Tem o Batalhão da Estrela que é só o filé. Aquele mar de gente com chapéu de fitas coloridas não é só enfeite não, é símbolo de orgulho. É o caboco batendo no peito e mostrando que tem cultura, que tem “visagem” e que sabe fazer bonito.

Não é só pular feito doido não, tem todo um ensinamento, uma pedagogia por trás. É cortejo no rio, é cortejo na terra… o negócio toma conta do centro histórico e muda até o som da cidade.

Bora Logo!

Então, se tu ver o boi passando, não fica de migué. Mete a cara e vai curtir, porque o Arraial do Pavulagem é a nossa cara, é a nossa pavulagem pro mundo ver.

🐂 A História Pai D'égua do Arraial do Pavulagem (1986–2025)

 

O Começo de Tudo: De Banda a Movimento Cultural

 

Tu sabia que essa fulhanca toda começou lá em 1986? Pois é, mano! Tudo ideia de dois cabocos que são muito cabeça: Ronaldo Silva e Júnior Soares. Eles não queriam só fazer música, eles queriam misturar tudo que é nosso — carimbó, boi-bumbá, lundu — e botar o povo na rua.

No início, era uma banda com guitarra, baixo e aquele peso do curimbó. O nome veio do “Boi Pavulagem do Teu Coração”. E tu sabe, né? Pavulagem é quando a pessoa tá se achando, se exibindo, mas aqui é no sentido de encanto, de algo mágico que deixa a gente abestado de tão bonito. De 1995 pra cá, eles soltaram vários discos que são daora demais!

O Instituto Ficou Maceta (2003)

 

Com o tempo, a brincadeira cresceu discunforme! Era tanta gente atrás do Boi que não dava mais pra levar na base do improviso ou da gambiarra. Aí, em 2003, criaram o Instituto Arraial do Pavulagem.

  • A Casa Nova: Eles arrumaram um canto lá no Boulevard da Gastronomia (na Santa Casa), bem ali. Agora o negócio é organizado, tem oficina pros brincantes e tudo mais.

  • Apoio de Peso: Conseguiram patrocínio de gente grande. Não é coisa de meia tigela não, parente! Isso garante que a festa aconteça todo ano sem aperreio.

As Novidades e o Futuro (2023-2025)

 

O Arraial não para no tempo, ele se reinventa todo ano. Olha só o que rolou e o que vem por aí:


Resumo da Ópera

 

O Arraial do Pavulagem é a prova de que quando o caboco decide fazer algo com amor pela terra, vira algo chibata! Não é só festa, é educação e respeito pela nossa floresta.

E aí, tu manja agora da história do Boi? Se alguém te perguntar, tu já tem a resposta na ponta da língua e não vai ficar com cara de leso.

Gostou, mano? Então bora valorizar nossa cultura que é o bicho!


 

O Arrastão do Pavulagem: A Maior Pavulagem da Nossa Cultura!

 

Ei, parente! Tu tens que saber que o Arrastão do Pavulagem não é pouca coisa não. É o momento em que o Instituto Arraial do Pavulagem mostra a que veio, fazendo uma bumbarqueira pela cidade que é pai d'égua! É uma mistura doida e bonita de procissão, cortejo real e aquele carnaval de rua que a gente adora, virando uma verdadeira ópera cabocla debaixo do nosso sol quente.

Chegando de Bubuia: A Festa Começa no Rio

 

Diferente dessas festas por aí que só pisam no chão, aqui o negócio começa nas águas, porque o nosso povo tem o rio na veia. Tudo inicia de bubuia na Baía do Guajará. A comitiva traz o Boi e os Mastros de São João num barco regional, saindo lá do rio até aportar na Escadinha do Cais do Porto.

Isso é bonito demais, mano! Representa o saber do caboco do interior chegando na cidade grande. Quando eles chegam na Escadinha, rola a “Levantação dos Mastros”, marcando que ali agora é território da brincadeira e da cultura.

O Caminho da Roça (Só que no Asfalto)

 

Depois de sair do rio, a galera se junta lá na Praça da República, bem na cara do Theatro da Paz. É simbólico, sabe? O povo do Boi ocupando o lugar dos barões de antigamente.

O roteiro é o seguinte:

  • Concentração: 08:00h da matina na Praça.

  • Esquenta: 09:00h começa a roda cantada pra animar.

  • Pega o Beco: Às 10:00h, o cortejo desce a Presidente Vargas, tomando conta do centro.

  • O Estouro: Segue pela Municipalidade até chegar na Praça Waldemar Henrique, onde o bicho pega com o show da banda. Lá todo mundo vira artista e dança junto.

Organização que é o Bicho!

 

Não vai pensando que é bagunça de leso, não! O negócio é organizado pra ninguém se machucar, já que junta mais de 30 mil cabeças.

  • Comissão de Frente: O Boi Pavulagem vai na frente cheio de pavulagem, junto com os Mastros.

  • Cavalinhos da Campina: Essa ala é bacana demais! É reservada pros curumins , pras cunhantãs e pro pessoal PCD (Pessoas com Deficiência). Tem monitor e corda pra ninguém se apertar. É inclusão de verdade, mano!

  • Pernaltas e Cabeçudos: A galera no perna de pau e uns bonecos porrudos (gigantes) que dá pra ver lá de longe.

  • Batalhão da Estrela: É o coração da festa, a batucada que faz o chão tremer e empurra o cortejo pra frente.

O Batalhão da Estrela: A Alma do Arraial do Pavulagem

 

Ei, maninho(a)! Tu já ouviste falar do Batalhão da Estrela? Se tu achas que é só um grupo batendo tambor, tu tá muito enganado. O negócio é pai d'égua! O Batalhão é o coração do Arraial do Pavulagem, e não serve só pra fazer barulho não, serve pra ensinar a gente a ser cidadão de verdade. O nome vem daquela estrela que fica na testa do Boi, guiando a gente que nem farol no rio.

Aprendendo na Prática: As Oficinas

 

Antes do pipoco começar em junho, a galera já começa a se mexer. Tem oficina de percussão, dança e perna de pau. É gente discunforme! Pra 2025, a gente espera mais de 1.200 brincantes. É um bocado de gente reunida.

O jeito de ensinar é bem nosso, bem caboclo. Não tem esse negócio de papel e partitura complicada não. A gente aprende na base da observação, no “olhômetro”. O instrutor toca, tu espias e tu manja logo em seguida. É tudo junto e misturado, sem frescura ou pavulagem.

O segredo é simples: Começa devagar, um instrumento de cada vez, e vai juntando as camadas até ficar aquele som maceta.

E olha, não precisa ficar encabulado se tu não sabes tocar nada. Aqui todo mundo se ajuda. Tem gente que entra na dança sem querer e nunca mais sai, porque se sente em casa. Ninguém te deixa de lado, aqui a gente te acolhe mermo.

O Som da Nossa Terra

 

A batida do Arraial tem uma identidade própria, não é igual escola de samba do Rio não, mano. Aqui o ritmo é nosso, com influência do carimbó, da toada e do marabaixo. Os instrumentos são adaptados pra aguentar o tranco da rua e fazer aquele som que deixa qualquer um arrepiado.

Quando o Batalhão passa, ninguém fica embiocado em casa. O som chama todo mundo pra rua! É uma mistura de ritmos que mostra que o nosso povo, quando se junta pra fazer arte, é o bicho!

Então, se tu queres participar, mete a cara! Não vai ficar aí perambulando sem rumo. Vem pro Batalhão que aqui o negócio é bacana demais.

Tabela 1: Instrumentos do Batalhão da Estrela

 

InstrumentoDescrição e FunçãoOrigem/Referência
BarricaTambores graves feitos de barris (plástico/madeira), tocados com baquetas. Fazem a marcação de fundo (o “surdo” da Amazônia).Adaptação de instrumentos de transporte/armazenamento. 18
Rocar (Chocalho)Instrumento de metal com platinelas. Responsável pelo brilho e preenchimento agudo, sustentando o andamento.Influência das escolas de samba, mas com “levada” de carimbó. 18
MaracaChocalhos de mão feitos de cabaça ou metal. Marcam a cadência indígena e do carimbó de raiz.Herança indígena e do carimbó tradicional (“pau e corda”). 19
Caixa de MarabaixoTambor de média dimensão, tocado à tiracolo. Adiciona o sotaque das festas de santo e do batuque.Tradição afro-amapaense e paraense.
Banjo e CurimbóInstrumentos harmônicos e percussivos que geralmente ficam no trio ou na base da banda principal.Base do Carimbó. 1

A citação “Até pinico dá bom som se a criação for mais ou se o músico for bom” 20, mencionada em contexto de ensino de percussão, reflete a filosofia de que a música reside na criatividade e na intenção, mais do que na nobreza do material do instrumento, legitimando o uso de materiais alternativos e recicláveis na confecção dos instrumentos do Batalhão.

Égua da História: O Segredo do Chapéu de Fitas e do Boi Azul

 

Égua, mana! Tu já paraste pra matutar sobre aquele chapéu cheio de fitas e aquele Boi Azulado que a gente vê no Arraial? Se tu achas que aquilo é só pra ficar “pai d'égua” na foto ou pra fazer uma “pavulagem”, tu tás muito enganado. Deixa de ser “leso” e vem cá que eu vou te explicar essa parada direitinho, sem aquele papo difícil de “semiótica” que o povo estudado fala. Vamos trocar uma ideia no nosso amazonês mermo.

O Chapéu não é só boniteza, é identidade!

 

Olha já! Aquele chapéu de palha com fitas não é bagunça não. Ele é tipo o uniforme oficial da nossa “galera”. Quando tu botas aquele chapéu na cabeça, não importa se tu és rico ou liso, todo mundo fica igual.

O negócio é o seguinte: aquele chapéu faz a gente ficar a cara dos mestres da marujada e dos vaqueiros do Marajó. É uma forma da gente, que tá na cidade, virar um “caboco” de respeito. Porque tu sabes, né? Ser caboco é ter orgulho de ser essa mistura boa, gente simples do interior.

E tem mais, parente! Quando a multidão começa a pular, aquelas fitas balançando mostram que a gente tá junto, é um “ti mete” de cores que parece um rio correndo no meio da rua. É ali que tu mostras que fazes parte do Batalhão.

As Cores que não são “Migué”

Tu pensas que as cores das fitas foram escolhidas no “treco”? “Nem com nojo”! Cada cor ali tem um “fundamento”, tu manja? Se liga na visão:

  • Vermelho: É a força, o sangue, lembrando a nossa bandeira do Pará. É “chibata”!

  • Verde: É a nossa floresta, a mata que a gente tem que cuidar pra não virar “caixa prega”.

  • Azul: É o céu, as nossas águas e, claro, a cor do nosso Boi.

  • Amarelo: É o sol que “broca” a gente de calor e a riqueza da nossa terra.

E lá no topo do chapéu tem a estrela, que é a marca registrada do nosso Boi Pavulagem. É “só o filé”!

O Boi Azul: O Dono da Festa

 

Agora, bora falar do dono da festa. O nosso Boi Pavulagem não é vermelho e nem preto. Ele é azulzinho, bem “bacana”! Ele é diferente daqueles bois lá de Parintins, o Garantido e o Caprichoso , que também são “daora”, mas o nosso tem o seu próprio borogodó.

Essa cor azul liga ele com o céu e com as águas, como se ele vivesse “de bubuia” no sagrado. A estrela na testa dele é tipo um farol guiando a brincadeira. Ele não é nenhuma “visagem” pra dar medo, ele é o coração da festa que junta todo mundo.

Então, parente, agora que tu já sabes, não fica aí “embiocado” dentro de casa. “Mete a cara” , pega teu chapéu e vai pro Arraial, porque saber a história da nossa cultura é muito “cabeça”

Sustentabilidade e Política: Do “Arraial do Saber” ao “Arraial da Floresta”

 

Nos últimos anos, o Instituto Arraial do Pavulagem tem politizado suas temáticas, alinhando-se às urgências globais e locais. A festa deixou de ser apenas uma celebração da tradição para se tornar uma plataforma de ativismo socioambiental.

 

6.1. O Retorno do Cordão do Peixe-Boi

 

Em novembro de 2025, o grupo reativou o Cordão do Peixe-Boi, após um hiato de 12 anos. Este evento específico distingue-se do Arrastão Junino por seu foco ecológico explícito. O Peixe-Boi (Trichechus inunguis) é um símbolo da fauna amazônica ameaçada. O cortejo funciona como um manifesto em defesa das águas e da biodiversidade.8

A logística deste cordão é diferenciada, enfatizando a relação com o tempo e o rio:

  • Concentração: Inicia-se de madrugada, às 06:00h, na Escadinha da Estação das Docas.
  • Alvorada: Às 07:00h, ocorre a cerimônia de saudação ao dia, com rodas de canto.
  • Chegada do Peixe-Boi: O boneco do Peixe-Boi chega pelo rio, de barco, atracando na escadinha por volta das 08:45h.
  • Cortejo: Segue até a Praça Dom Pedro II, onde ocorre o show de encerramento.8

Este ritual matinal e fluvial reforça a mensagem de vigilância e cuidado com o meio ambiente, contrastando com a festa vespertina e solar de junho.

 

6.2. Ações de Sustentabilidade e a COP 30

 

Sob o tema “Arraial da Floresta” (2025), o grupo implementou um robusto programa de gestão ambiental, antecipando-se à COP 30. A parceria com a Equatorial Pará e cooperativas de catadores (como a CONCAVES) viabilizou ações práticas 4:

  • Reciclômetro e Ecopontos: Instalação de pontos de coleta onde resíduos recicláveis (latas, plásticos) podem ser trocados por brindes ou benefícios.
  • Ecocopos: Distribuição massiva de copos reutilizáveis para eliminar o consumo de copos descartáveis de plástico, um dos maiores passivos ambientais de festas de rua.
  • Educação Ambiental: As oficinas infantis incluem a confecção de instrumentos a partir de materiais reutilizados, formando uma nova geração de brincantes conscientes.23

Essas iniciativas posicionam o Arraial do Pavulagem como um modelo de “evento sustentável” na Amazônia, demonstrando que a cultura de massa pode ser aliada da conservação.

7. Marco Legal: A Consagração como Patrimônio Cultural Nacional

 

A trajetória do Arraial do Pavulagem é também uma história de luta pelo reconhecimento jurídico, fundamental para a salvaguarda e o financiamento da manifestação.

 

7.1. A Lei 14.961/2024

 

O ápice deste processo ocorreu em 4 de setembro de 2024, com a sanção da Lei nº 14.961 pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta lei reconhece oficialmente o Arraial do Pavulagem como Manifestação da Cultura Nacional.6 A cerimônia de sanção, realizada em Brasília, contou com a presença da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, e do Ministro das Cidades, Jader Filho (político paraense), evidenciando a articulação política de alto nível envolvida.25

O texto da lei é sucinto mas poderoso:

Art. 1º Fica reconhecido o Arraial do Pavulagem como manifestação da cultura nacional. 6

Este reconhecimento federal equipara o Pavulagem a outras grandes festas brasileiras, como o Carnaval e as Festas Juninas do Nordeste, facilitando o acesso a linhas de fomento do Ministério da Cultura e blindando o evento contra descontinuidades políticas locais.

 

7.2. O Arcabouço Legal Estadual e Municipal

 

O reconhecimento nacional foi precedido por importantes conquistas legislativas locais:

  • Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Belém (2017): Reconhecimento pela Câmara Municipal, garantindo a proteção no âmbito da cidade.1
  • Patrimônio Cultural do Estado do Pará (Lei 9.108/2020): Consolidação do status estadual, fundamental para o apoio da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) e da Fundação Cultural do Pará (FCP).2

Além disso, a Lei nº 14.970/2024, sancionada na mesma época (embora com temática diferente, instituindo o Dia Nacional da Pastora Evangélica), demonstra o intenso período de atividade legislativa cultural e social em 2024, no qual o Pavulagem se inseriu com sucesso.26

8. Impacto Econômico e Turístico: A Economia da Cultura

 

O Arraial do Pavulagem é um motor econômico vital para Belém. Em um cenário de recuperação pós-pandemia, onde o turismo global busca experiências autênticas e culturais 28, o evento se destaca.

 

8.1. Fluxo Turístico e Ocupação Hoteleira

 

Cada domingo de arrastão atrai mais de 30.000 pessoas.11 Este fluxo não é composto apenas por residentes de Belém; caravanas do interior do estado e turistas de outras regiões do Brasil viajam especificamente para a Quadra Junina paraense. O evento ajuda a combater a sazonalidade do turismo, criando um pico de demanda em junho/julho que beneficia hotéis, pousadas e o setor de alimentos e bebidas.

O Fórum Econômico Mundial (WEF) destaca em seu relatório de 2024 que o Brasil possui alto potencial em recursos naturais e culturais, e eventos como o Pavulagem são catalisadores essenciais para transformar esse potencial em receita turística real, melhorando a pontuação do país no Índice de Desenvolvimento de Viagens e Turismo.28

 

8.2. A Cadeia da Economia Criativa

 

A realização dos arrastões movimenta uma extensa cadeia produtiva:

  • Artesanato: A produção de milhares de chapéus de fitas, adereços, camisas e instrumentos musicais gera renda direta para artesãos e costureiras locais.
  • Serviços Técnicos: A estrutura de som, palco, segurança e logística emprega centenas de profissionais temporários.
  • Comércio Informal: O entorno do cortejo é tomado por vendedores ambulantes de comida típica (tacacá, maniçoba, vatapá), bebidas e souvenirs, dinamizando a economia popular.15

A presença de grandes patrocinadores como a Petrobras (Patrocínio Máster do Cordão do Peixe-Boi) e a Equatorial Pará sinaliza que o mercado corporativo reconhece o alto retorno de imagem e engajamento proporcionado pelo evento.5

9. Análise Poética e Musical: A Crônica Cantada da Cidade

 

A música é o fio condutor da experiência do Pavulagem. As composições de Ronaldo Silva e Júnior Soares não são meros acompanhamentos, mas narrativas que ensinam sobre a identidade amazônica.

 

9.1. Hermenêutica das Toadas

 

A letra da toada clássica “Boi Pavulagem do Teu Coração” serve como um manifesto do grupo:

“Vem chegando o mês de maio eu já vou me preparando / com bandeiras fitas flores com as cores do arco-íris” 22

A menção ao “arco-íris” e às “cores” reforça a visualidade multicolorida do cortejo e a diversidade inclusiva do grupo.

“Viro foguete, viro um tesouro da cultura popular” 22

Este verso é crucial: ele sugere uma transubstanciação. O brincante comum, ao entrar no cortejo, deixa de ser um indivíduo anônimo para se tornar “tesouro”, ou seja, patrimônio vivo. A autoestima do sujeito periférico é elevada ao status de riqueza cultural.

“O meu brinquedo encantador / prenda a bela de São João” 22

A referência a São João e ao “brinquedo” ancora o evento na tradição junina, mas a adjetivação “encantador” remete ao universo da “Encantaria” amazônica, sugerindo que o boi possui vida e espírito próprios.

 

9.2. A Fusão Rítmica

 

A sonoridade do grupo é um estudo de caso de antropofagia cultural. O Carimbó fornece a base do balanço e a sensualidade da dança; a Toada de Boi traz a cadência da marcha e a dramaticidade; o Lundu e a Mazurca aparecem em citações melódicas e rítmicas. Essa mistura cria uma música que é inconfundivelmente paraense, mas acessível e pop, capaz de ser cantada por multidões. A banda também incorpora elementos modernos na harmonia (uso de guitarras com efeitos, baixos marcados), atualizando a tradição sem descaracterizá-la.1

10. Conclusão e Perspectivas Futuras

 

O Arraial do Pavulagem consolidou-se como uma das mais importantes tecnologias sociais de preservação e difusão da cultura na Amazônia. Ao unir a festa à educação patrimonial, o Instituto Arraial do Pavulagem garantiu que a tradição do boi-bumbá não se perdesse no tempo, mas se renovasse nas mãos e pés das novas gerações urbanas.

A consagração como Patrimônio Cultural Nacional em 2024 e a preparação para a COP 30 em 2025 colocam o grupo diante de novos desafios e oportunidades. O desafio é manter a autenticidade e a “alma de brinquedo” diante da crescente espetacularização e do afluxo turístico massivo. A oportunidade reside em usar sua plataforma gigantesca para pautar a discussão sobre a Amazônia que se quer para o futuro: uma Amazônia que celebra sua floresta, respeita suas águas e valoriza seus saberes ancestrais.

Para o ciclo de 2025, com os arrastões confirmados para 15, 22 e 29 de junho e 06 de julho 9, espera-se uma celebração histórica, onde o “Batalhão da Estrela” mais uma vez converterá as ruas de Belém em um rio de gente, reafirmando que a maior riqueza da região não está apenas no solo ou na copa das árvores, mas na cultura pulsante de seu povo.

Anexo: Cronograma e Dados de Referência (Ciclo 2025)

 

Tabela 2: Calendário dos Arrastões do Pavulagem 2025

DataEventoLocal de ConcentraçãoHorário
12 de JunhoCortejo Fluvial e Levantação dos MastrosEscadinha do Cais do PortoManhã
15 de Junho1º Arrastão do PavulagemPraça da República08:00h
22 de Junho2º Arrastão do PavulagemPraça da República08:00h
29 de Junho3º Arrastão do PavulagemPraça da República08:00h
06 de Julho4º Arrastão do PavulagemPraça da República08:00h
30 de NovembroCordão do Peixe-Boi (Retorno)Escadinha do Cais do Porto06:00h

Fonte: Dados compilados a partir de 8

Tabela 3: Marcos Legais de Proteção

 

AnoTítulo/LeiEsferaDescrição
2017Patrimônio Cultural ImaterialMunicipal (Belém)Reconhecimento pela Câmara Municipal. 1
2020Lei Estadual nº 9.108Estadual (Pará)Declaração como Patrimônio Cultural do Estado. 2
2024Lei Federal nº 14.961Nacional (Brasil)Reconhecimento como Manifestação da Cultura Nacional. 6

Referências citadas

  1. O que é o Arraial do Pavulagem? Conheça a origem do arrastão …, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.oliberal.com/cultura/o-que-e-o-arraial-do-pavulagem-conheca-a-origem-do-arrastao-paraense-realizado-em-belem-1.825339
  2. Arraial do Pavulagem – Wikipédia, a enciclopédia livre, acessado em dezembro 1, 2025, https://pt.wikipedia.org/wiki/Arraial_do_Pavulagem
  3. Serviço Público Federal Ministério do Turismo Ins tuto do Patrimônio Histórico e Ar s co Nacional PARECER TÉCNICO nº 19/2 – BCR – IPHAN, acessado em dezembro 1, 2025, https://bcr.iphan.gov.br/wp-content/uploads/tainacan-items/65968/66731/Cirio-de-Nazare_de_Parecer-de-Revalidacao_.pdf
  4. Arraial do Pavulagem: Calendário para COP 30, Círio e Cordão do Galo é confirmado, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.oliberal.com/cultura/arraial-do-pavulagem-calendario-para-cop-30-cirio-e-cordao-do-galo-e-confirmado-1.1013381
  5. Com a parceria da Equatorial Pará, Arraial do Pavulagem divulga programação, com datas dos arrastões, para a quadra junina, acessado em dezembro 1, 2025, https://pa.equatorialenergia.com.br/2024/04/com-a-parceria-da-equatorial-para-arraial-do-pavulagem-divulga-programacao-com-datas-dos-arrastoes-para-a-quadra-junina/#!
  6. L14961 – Planalto, acessado em dezembro 1, 2025, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2024/lei/L14961.htm
  7. Santa Casa celebra reconhecimento do Arraial do Pavulagem como Manifestação Cultural Nacional | Agência Pará, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.agenciapara.com.br/noticia/59411/santa-casa-celebra-reconhecimento-do-arraial-do-pavulagem-como-manifestacao-cultural-nacional
  8. Arraial do Pavulagem traz de volta às ruas o Cordão do Peixe-Boi; entenda – O Liberal, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.oliberal.com/cultura/arraial-do-pavulagem-traz-de-volta-as-ruas-o-cordao-do-peixe-boi-entenda-1.1055340
  9. Arrastões do Pavulagem 2025: confira as datas e ações do Instituto …, acessado em dezembro 1, 2025, https://correioparaense.com.br/2025/05/08/arrastoes-do-pavulagem-2025-confira-as-datas-e-acoes-do-instituto/
  10. Arraial do Pavulagem – Baila do Carimbó – YouTube, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=lt6m3JrtfNc
  11. Arraial do Pavulagem divulga calendário dos arrastões de 2024 – Jornal Pará, acessado em dezembro 1, 2025, https://jornalpara.com.br/noticia/4197/arraial-do-pavulagem-divulga-calendario-dos-arrastoes-de-2024
  12. Arraial do Pavulagem divulga agenda para a quadra junina de 2025 – DOL, acessado em dezembro 1, 2025, https://dol.com.br/entretenimento/cultura/905619/arraial-do-pavulagem-divulga-agenda-para-a-quadra-junina-de-2025
  13. 1º Arrastão do Pavulagem 2025 é neste domingo (15); veja horários e percurso – Diário do Pará, acessado em dezembro 1, 2025, https://diariodopara.com.br/entretenimento/voce/1o-arrastao-do-pavulagem-2025-e-neste-domingo-15-veja-horarios-e-percurso/
  14. Belém recebe o primeiro Arrastão do Pavulagem de 2025 neste domingo – Bacana News, acessado em dezembro 1, 2025, https://bacananews.com.br/belem-recebe-o-primeiro-arrastao-do-pavulagem-de-2025-neste-domingo/
  15. Estado garante segurança durante os cortejos do Arraial do Pavulagem – Agência Pará, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.agenciapara.com.br/noticia/57111/estado-garante-seguranca-durante-os-cortejos-do-arraial-do-pavulagem
  16. Segundo Arrastão do Pavulagem de 2024 vai às ruas de Belém neste domingo (23), acessado em dezembro 1, 2025, https://correioparaense.com.br/2024/06/20/segundo-arrastao-do-pavulagem-de-2024-vai-as-ruas-de-belem-neste-domingo-23/
  17. UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DO CHAPÉU COMO ADEREÇO DO …, acessado em dezembro 1, 2025, http://www.olhodagua.ibilce.unesp.br/index.php/revistamosaico/article/view/863/707
  18. Samba Tradicional com 5 Instrumentos de Percussão (AULA GRATUITA) – YouTube, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=UqsAR3brxis
  19. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA ARTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES – Repositório Institucional da UFPA, acessado em dezembro 1, 2025, https://repositorio.ufpa.br/server/api/core/bitstreams/f1486f29-56eb-44bb-a1c9-438e0e473951/content
  20. PERCUSSÃO: INSTRUMENTOS MAIS USADOS: Condução e Efeitos – YouTube, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=gmEapAOcFSA
  21. Arrastão do Pavulagem: saiba como foi criado o chapéu de fitas inspirado em São João Batista – O Liberal, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.oliberal.com/cultura/arrastao-do-pavulagem-saiba-como-foi-criado-o-chapeu-de-fitas-inspirado-em-sao-joao-batista-1.828365
  22. Arraial do Pavulagem | Boi Brinquedo (Clipe Oficial) – YouTube, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=NBcASxJD90I
  23. Quem faz? Ep.7 – Chapéu do Pavulagem – YouTube, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=TdKlFyhiv8M
  24. PL 4284/2019 – Senado Federal, acessado em dezembro 1, 2025, https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/163570
  25. Ministro das Cidades acompanha sanção da Lei que transforma “Arraial do Pavulagem” em patrimônio cultural do Brasil – Portal Gov.br, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.gov.br/cidades/pt-br/assuntos/noticias-1/ministro-das-cidades-acompanha-sancao-da-lei-que-transforma-201carraial-do-pavulagem201d-em-patrimonio-cultural-do-brasil
  26. Base Legislação da Presidência da República – Lei nº 14.970 de 13 de setembro de 2024, acessado em dezembro 1, 2025, https://legislacao.presidencia.gov.br/ficha/?/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2014.970-2024&OpenDocument
  27. LEI Nº 14.970, DE 13 DE SETEMBRO DE 2024 – DOU – Imprensa Nacional – Poder360, acessado em dezembro 1, 2025, https://static.poder360.com.br/2024/09/dou-pastores-16set2024.pdf
  28. Turismo volta ao patamar anterior à pandemia, mas desafios persistem, acessado em dezembro 1, 2025, https://www3.weforum.org/docs/Travel_and_Tourism_2024_Press_Release_PTBR.pdf
  29. Arrastões do Pavulagem 2025 têm calendário divulgado; veja a agenda completa! | Cultura, acessado em dezembro 1, 2025, https://www.oliberal.com/cultura/arrastoes-do-pavulagem-2025-tem-calendario-divulgado-confira-os-quatro-dias-1.958833